quarta-feira, 10 de março de 2010

Eu nasci no país do sol o médio dos vulcões detido. Nasci no país da lua cheia, onde o céu se alcança com a mão e os aromas são doces, e as peles têm a cor da terra, como os rostos o acento de uma geografia sempre por descobrir.
Em 21 de Junho de 1.964, meus olhos se abriram ao dia, se é que meus olhos de aquelas tinham algum interesse em se abrir ou se as sombras que percebiam eram inicio para uma viajem que sempre esta a procura dum caminho novo ate o inicio de outra luz; supõe-se que de não conseguir se vislumbra na morte.
Talvez a nossa vida guarde esse significado: de ir ate um encontro onde tudo começou. Talvez tenha retorno, talvez não, e, no entanto somos pequenos fragmentos de uma unidade universal, tão diversa como enriquecedora.
Cresci ai, ao longo do amor, e meus pés pisaram por primeira vez a relva, e o ar que de forma diferente, segundo as horas, segundo as estações, ia enchendo meus pulmões pequenos enquanto os meus passos faziam certeza que a umidade fresca e pó eram meus amigos também: então perdi o medo a decidir dar um passo mais a frente.
Como mais tarde perdi o medo do trovão, e das ondas no mar, e da noite sem estrelas, e mesmo da escuridão onde habita a nossa parte escura; em troca aprendi o que era a grande dor: o horror de viver de costas a vida, o horror de ver o horror cru e nu diante da nossa frente, sem poder-lhe pôr remédio, e a cobardia de não se atrever, nunca se atrever a mudar um bocado o planeta.
Para cruzar o grande mar, fui obrigado a abandonar a pátria de nascença, mas ganhei no gesto outras novas pátrias. Voando, rápido compreendi que também os técnicos avanços matam aventuras que forçavam aos seres a se superar no principio dos inconiventes, adaptando constantes vitais a cada novo elemento, incerto ou duradouro que travam as nossas andanças; mas pela contra dão grande segurança: a segurança séptica do ritual já alguma vez realizado.
E na chegada a um mundo estranho para mim, apanhei prisão porque me deixaram interno numa escola rançosa e hipócrita, de cujo nome prefiro não lembrar-me. Mas teve verões no campo, e um padrinho que me ensinou o nome das arvores na língua que amam aqueles que sentem raízes na terra dos antepassados; assim como o sabor da água degustada no nascente, e daí pude olhar o mundo com os olhos da minha aldeia. Um avô que me aprendeu a ver esta Terra com olhos do mundo, e a minha avó da que herdei a mania de falar com os seres que nos rodeiam, são caricias no etéreo elemento, e podem nosso ritmo guiar, porque eles também estão vivos e espreitam aromas que nós ainda desconhecemos. Não tem nada de extraordinário, mas sem dá bom beneficio quando um aprende a se aproximar das arvores e o rio.
De sonhar, pois com as gentes que conheci, achava eternas e agora só estão conosco, enquanto prevalecem difusas, suas vidas, na lembrança. Às vezes com elas me comunico e não sempre são agradáveis as noticias que nos transmitem, pois sofrem do outro lado do muro também nossas guerra suicidas. De quando em quando se zangam com as minhas manias e me repreendem do mesmo jeito amável que se faz com os mais cativos, bondosamente e compreensivos. Por que ao fim e ao cabo eles sabem que nós também somos vivos por inconscientes.
Aprendi recitar um dia, por que ela não quis os meus beijos. Comece a chorar uma noite de raiva por obcecar-me com os desejos e uma lagrima me ensinou o segredo da paciência. E desejei muito a serio controlar os meus anseios que geram sofrimento: é uma dor imensa, que sempre pode e deve ser evitada.

E a poesia estava dentro de mim e eu com ela, por ela, fiquei na magia dum tempo que prevalece a pesar dos câmbios e das mentes estreitas, que procuram no vazio do ser inúteis conquistas banidas na soberba. Estava dentro de nós, no centro do espírito onde inicia nosso amor um contanto com a cósmica essência: do ser, das cousas; da vida que flui na energia que nos conecta, em pleno núcleo, com o universo. De jeito que aprendi a falar com a voz dos que habitam no silencio: e vivi com excluídos e senti a marginação de negar uma oportunidade por causa da nascença. Nem sempre e fácil de este mundo falar, mas às vezes não temos outro remédio.
Compreendi que justiça e injustiça são termos que se aplicam segundo os valores impostos, e os que ficam na cima tem muito préstimo, e os que ficam abaixo sustem a pirâmide a custa do seu suor e do sangue que nunca regressa a suas veias que envelhecem, fazem-se duras como as próprias vivencias.
Aprendi estas cousas e outras muito simples; escrevi três livros e centos de poemas, ganhei também algum premio, artigos, um que outro estudo e tantos fracassados projetos...
Dizem que é importante para esta Academia relatar com precisão os títulos, os méritos, mas eu acho que não tem, no meu caso, maior interesse. Não tem nenhum interesse alias, e se tal vez fui eleito – um orgulho senti esse dia como nunca tinha sentido, ao menos nunca tão intenso- mas se fui eleito tal vez, não deve ser pelos méritos escritos num papel carente de peso, inconsistente e em quantas ocasiões utilizado para mentira expandir como azeite pelo planeta, os falsos rostos dos falsos homens que se apegam a méritos que para eles outros inventam.
Se for eleito, penso, foi quiçá pelo que agora comento: o único legado que tenho o único de valor que lego e, todavia acrescentaremos nem muito originais, nem muito ocorrentes são: os meus pensamentos.
E se estes brotaram do percurso vital que todo ser percorre, das leituras que irrigam sua mente, dos múltiplos fatores que influenciam desenrolo, das fotos que gravei, das caricias que me faltaram, dos carinhos que recebi, do amor desinteressado que fui capaz de dar e interiorizar, e se estes surgem pois também na medida em que um coração pode ser grande, não seria fora de lugar fazer que o amor que acumulei nesta chama resguardado, seja a humanidade e a esta Academia entregado.
E, pois da constância, do aferrar-se ao valor aprendido nos homens e mulheres de esta, de outras Terras, que eu entrego tal vez aquilo que nunca nos pertence: o valor humano, seja ele individual ou coletivo.
Algo, no entanto ficou em mim retido e só a vida pode regressar soltando-o como semente, para que frutifique as cores, para que frutifique no vento, para que o ar a transporte decida em que vale deitá-la a procriar, dando-lhe a oportunidade quiçá de enriquecer outra existência.
Eis então os títulos amontoados a traves do tempo, mais ou menos remitidos pela Universidade do Incerto, que no erro elabora seus acertos, e agora com amor a esta Academia eu entrego:
Uma flor dobrada dentro dum livro que devia falar das espécies e inicia uma reflexão sobre a beleza inútil a consta da natureza
Uma mão suja que nunca pude borrar e inicio com ela à primeira mentira que provocou uma vida falsa e desonesta, que anos de sacrifico e grã perda de tempo custou modificar.
Um beijo no rosto caído que alivia desilusão e ensina a verdade do caminho correto na compaixão do momento, e reconforta ao vencido.
Um relógio que ninguém se atreve a tocar e dá-nos ilusão de que um pai ainda os passos nos segue, e ele simplesmente marca as horas.
Um cutelo imaginário que lembra, sempre lembra a primeira vez que traição atravessou as nossas artérias.
Um lenço rendado que utiliza a paciência como arma para derrotar o astuto e indecente que trunfa durante um período vendendo, pervertendo as inquietas mentes.
Um guarda chuvas furado, pendurado do pescoço a modo de quem nunca esquece o lugar de proveniência.
Uma foto de cada filho para guardar no coração e deixar que partam chegado seu momento a realizar livres suas vidas, sem estúpidas interferências.
Uma moeda de ouro que firmemente afirma e é certo que como outros também me vendo, ainda que sejam 8 horas diárias para ganhar o sustento.
Uma bola rota e descosida que ainda na memória conservo como conservo os amigos que jogaram com ela; é um símbolo de lealdade e solidariedade que não caduca, porque a memória pode ser também o infinito. Não deve em sua rede agarrar-nos, mas tampouco dela devemos ficar esquecidos.
Um ticket de hipermercado para entender o inevitável, e ser consciente da porção que a mim me toca na criação global da pobreza. E a vez da necessidade de comprar para outros terem emprego, do qual se alimenta o salário que eu, a seguir com pouco agradecimento, mensalmente percebo.
E uma nomeação de Acadêmico, que sempre, sempre ao ouvido murmura concreto: “Te deves ao teu país, tua língua e suas gentes”... É um compromisso adquirido, agora não há outro remédio que estar à altura e aceitar as conseqüências”. Oportunidade que imenso agradeço.
E a maldade, e o ego, e o ego que nunca tem suficiente e se junta a outros egos capazes de por dominar o ego rival, destruir para sempre, para seu ego alimentar, o nosso belo planeta.

Todas estas pedrinhas encontrei no meu caminho (agora estão apegadas a sola do meu sapato), não me molestam mais bem me alimentam, irrigam meu sangue e fazem vibrar meu cérebro ao tempo que me cuidam de percorrer errados eidos. Todas estas pedrinhas me foram aparecendo, às vezes no descuido outras sem dar por elas; sei que nada valem ou têm um valor não concreto, mas elas guiaram meu destino e de alguma forma presenciam, presenciaram se os Deuses quiseram minha vida acadêmica. A elas lhes devo as fraquezas, as ilusões perdidas, mas também as fortalezas, a capacidade de renuncia e inalterável decisão da lealdade ao juramento. Deixo-as pois nas vossas mãos, cuidado sejam resguardas com amor que o humilde merece, e aguardando tal vez possam a vir algum dia a alguém servi-lhe de referencia, como a mim me serviram de guia nos momentos de grande incerteza.

quarta-feira, 3 de março de 2010

ou


Hoje o rio vai crescido.
O vazio invade todo ser que se aprecie.
Minha filha fica na casa a espera de obter certo resultado adverso, enquanto as folhas sobre ela passam carregadas de conceitos, que à mente nunca pertencem.
Há outros aromas nas ruas a pesar da umidade anunciar o inverno.

As nuvens são como ameaças e, a estação das chuvas uma rotina que a saudade concreta, nas nossas almas desertas.
Estas arvores que todo o contemplam evocam essa ausência.
Um certo caminho anuncia que outros lugares desejas, mas tu permaneceras aqui, em este, por apego ao concreto.
O tempo todo se detém: nada continua. O outono prevalece.