segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Ruas desertas.


O mesmo som a se repetir nas paredes que nunca terão historia.
Dentro encontra-se um oco, mas ele mesmo, em um momento alcança.
Chegou hoje, como podia ter chegado na hora em que ninguém escuta os bêbados
ou afogados.

O mesmo som a repetir-se no adro do palácio,
nas campas onde os túmulos não são mortuários, no entanto sim fechados, e
no beco mais frio das ruas que foram abandonadas
pelo amor dos filhos mais novos,
que jogam seus instintos na corrida dum vento que (dele, o pai) os distancie

é o mesmo som a repetir-se por riba das montras, que abrigaram
no médio dia as praças;
acima das cúpulas onde as pombas ninhos nunca fazem
e preferem emigrar, por exemplo a Praga

diz que ele teria de ir com elas a qualquer parte do mundo
onde o mundo fizera dele parte.
Mas ele chega, no dia mais inoportuno, na noite mais afogada
para adormecer na terra de onde partiram seus âmagos,
e em silencio, como o colono roubado:
como os pulsos dos exilados.

Derrota trás derrota, o mesmo som lhe aguarda.
Ninguém aguarda por ele no cais,
ninguém pergunta se passa.
No ramo canta o galo: dizem que começa a madrugada...

Artur Alonso

sexta-feira, 14 de agosto de 2009


Levantam as folhas outono
invernos na pele descida

cometem os homens covarde
maiores medos na fúria contra os vencidos.

Na dor dos humildes
uma estação adiante suas chuvas,
ao igual que o experimentado alça
muros de rancor onde o amor não consegue

não consegue, não !

e é úmido o paladar
na lama fresca da avenida

como tórrida a mulher
que vende suores nas camas rendidas
ao vapor do nosso corpo.

Ao tempo que quantos em quartos também se alçam
os homens atraso, afeitos ao descuido,
com oportunidades que evocam voar de pássaros fogo artifício

alguma vez renunciam
e chamam-se gozosos

outras não!
Não conseguem, não.

Porque possível a lua nem sempre
agora que a soma duma aurora provoca delírio
na voz que procura distancia

E mesmo assim não se consegue,
não se consegue não
mudar de rumo um ultimo dia.
Artur Alonso.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Mulheres Sozinhas


Escuto-as de certo, na hora zero, vão chorar todas juntas a falta da sua primavera.
Eu simplesmente escuto e são outro silencio no lenço que elas guardam,
atrás do punho dorido, onde as veias irrigam ao sangue apreços e faltas.
Falsos são seus sonhos, falsos foram seus homens,
mas elas ainda conseguiram tirar os seus filhos, empurrando cara adiante.
Às vezes algum morre rebentando no chão, e vermes são as pernas comidas pela fome,
às vezes um outro chega a governar acima dum pequeno um mapa...
E então terríveis comandam desejos que a falta de pai trasbordou fora de ânsias.
As arcas vivem cheias de penas de cisne, e feios conselhos;
matam pelo prazer de matar, ou morrem estúpidos por causa de arrebatar-lhes
as mães seus belos pecados.

Escuto-as no preto que vestem suas saias,
nos lutos adentro que adornam gastadas, as toucas engravidas.
Me olham bem sei, e passam de largo.
Também pensam elas serei eu soldado
e morrerei na mesma guerra aonde os filhos emigraram
em procura do beco vazio, onde elas foram obstrazadas.


de Artur Alonso.