terça-feira, 29 de setembro de 2009

ALBERTE MOMÁN NOVAL Compostela Galiza


I

Levo comigo
o determinismo dum souvenir

de leite materno
um país adolescente

aguardando pola minha madurez

e uma moreia de anedotas sobre tempos vividos

fora das fronteiras da história


II

sou da terrana

na que caem as minhas páginas

pois mostro ufano o seu estigma


III

possuo como única arma

a memória insuficiente

a confiança nos aços

do ar que me alimenta

e a firmeza da minha vontade liberada

Mmm



CARLOS QUIROGA Santiago de Compostela Galiza


Oxalá pudesse ser sempreolímpico

E ter segredos do tamanho de um planeta

como agora sinto.

Oxalá fosse capaz de tomar as armas

como só é possível no terceiro mundo.

Matar por comida, bebida,

matar por amor.

Oxalá não fosse tão carente neste

embrulho de supercivilizado quevisto.

Amansando os instintos.

Acatando estratégias.

Tolerando os direitos dos outros.

Tanta democracia. Tanta tristeza.

Oxalá o sexo fosse o pão e o riso a moeda.

Oxalá o sol brilhasse sempre

como brilha nos desertos.

E me queimasse a pele e me bronzeasse

os sentidos.

Oxalá pudesse ser sempre olímpico.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Poema De Lewis Carol


LEWIS CARROL

Então toda a nossa Vida é apenas um sonho

Visto difusamente na cintilação dourada

Através da corrente irresistível da escuridão do Tempo?


Debruçada para a Terra com angústia amarga,

Ou rindo-se de um espetáculo mais raro,

A flutuar de um lado para o outro.


Passamos à pressa o pequeno Dia do Homem,

E, do seu alegre meio-dia, não enviamos

Um olhar ao encontro do Fim silencioso.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

PERTENÇA


Ele era de um país que não tinha nome.
Ela estava na idade de mudar a rota.

Diz que foi o vento, o vento que tem o poder de converter as rochas em cinza.
E talvez nem muito menos fora assim, porque ele vinha dum lugar onde sempre se escondem os sonhos debaixo da areia (para cegar-lhes as estrelas).
E ela estava na idade de mudar as cores: no arco da velha, pôr telha no prado, ou verde que sobra debaixo da árvore... E ele tinha de mudar: suas formas.

Havia uma lagoa, sempre em qualquer lugar há uma lagoa (adivinha-se logo), mas esta era feita de lágrimas não vertidas sobre a válvula dos olhos.
E como ela sentia necessidade de mudar, e como ele viera dum país onde nunca falam as historias de outros tempos... seus caminhos tiveram (por força) de se cruzaram, como neste casual, que a ninguém agora interessa. Porque sempre numa ou outra vida hão de cruzar-se caminhos à roda.
E a ela tocou-lhe este, e a ele ficou-lhe tão perto... E como ele provinha dum país onde o nome sempre se esquece, e como nunca reparara no significado da nascença, tampouco ia agora “trigonometrar” sobre o estado propicio das acácias, ou contemplar alheio o medrar das raízes como berço para a ambos aninhar-se; dai que ele não acertara fácil aonde se dirigem as pegadas dos homens, que como ele, andam pelo mundo a volta da sobrevivência.
De modo que trocou seu pouco animado sentido, por uma senda que nunca chega ao horizonte.


Fragmento do relato Pertença de Artur Alonso

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Espectro de amor


Tantas vezes pensei, para ti,
a harmonia da chuva, tal vez, no teu cabelo,
na manha mais úmida, em que aquele raio de vida:
verdes as pupilas sobre montanhas verdes, refletiu
atrás das nossas costas,
em aquele dia que te recitei
por vez primeira teu primeiro poema.

E nós voando por riba,
olhando profundo sem saber
que aquele poema construído para ti, feito
por ti em verdade, esse nunca
tal vez jamais, outra vez, eu escreveria

Quantas vezes eu pensei nos seres
que habitam dentro de nós,
na sabedoria que dos mortos aprendi,
simplesmente,
para entregar-ta.

E tu a rejeitar-la como um costume,
porque aprendes-te na adolescência
que ninguém entrega nenhum embrulho de ouro
em um feitiço incoerente, preso do amor

Quantas,
tantas vezes eu à noite
quando tento afiançar-me no espelho
(não derrubar-me, seguir na luta),
Quantas
ainda pressinto, como se fora ser certo,
como se fosse algum dia acontecer,
teus braços sobre os meus ombros
para nunca dos meus liberados se afastar,
por causa da tua paixão

Com uma mistura de digna raiva
e um sorriso para conter
tentando desenhar, de memória,
teu rosto (suevo) de rainha

quantas vezes sem palavras
de novo sonharei, teus lábios a me dizer,
por fim: também eu te amo!

A decadência


A dia de hoje esta tudo por disputar: de um lado o velho, seu cão aguardando na memória do que tem sido um eterno tempo e agora se foi, como a chuva que parte com a estação da primavera. Do outro os donos da inconsciência, os amos do capital à espera dum rebento pronto a segurar um continuo, que deveria não ter impasse no tempo.
E nem sempre acontece assim.
De um lado pode ate o velho renascer no legado de aqueles que escutam a distancia o ecoar dos ventos, e sabem que os espíritos dos antigos hão voltar a terra que lhe foi roubada, há muitos séculos, pela sede de sangue do Imperador . Não virão como antanho, mas sim como renovadas formas, rostos ainda por definir na essência das raízes que sempre prevalecem.
Quanto aos donos do capital sucede muito a miúdo seus filhos não chegar a usufruir dum tão basto patrimônio, ficam vencidos, rendidos e exaustos ante a fúria de outros mais justos, injustos ou bem retraídos, na luta pela sobreposição, dos males que todos nos afetam.

A dia de hoje tudo por decidir: um homem que passeia na rua mais deserta e nunca encontra o farol que Alexandre deitou num lugar oculto da Ásia, que é imensa e bela e nos chama, umas vezes para a morte outras tantas para a vida.
Do outro lado, em Alexandria, numa biblioteca arder, está o segredo do olho que tudo ausculta (acima da pirâmide). E um repara quanto sangue derramado, quanto esforço sentenciado pela simples ânsia de viver uma aventura falida, que em sonhos foi alçada pelos amantes do desespero.

Estou convosco nisto, porque vivo ao vosso lado, mas temer ao homem que precisa da vossa aprovação. Como nada aguardar da mulher que se projeta na sombra dele. Mesmo de aqueles que estão à espera eterna da ressurreição, porque eles são os filhos do livro e sempre vêem carregados epitáfios, medo e apolítica visão. Bem sabeis, sabeis bem que eles venderam vossa carne e a sangue do vosso sangue ao filho do pai, que foi de novo inicio deus e cordeiro.

A dia de hoje tudo esta a mudar, pois o império se despedaça. E é bom que assim aconteça, pois o cancro começa a corroer os últimos resquícios vitais dum sistema que já não traslada esperança de salvação, as massas abduzidas de espíritos muito fracos, como de doentes cérebros entregues estão, os elementos da alma a deformação da própria primeira vida, que deu a essência aos primitivos homens.

Eles hão de perceber e no ultimo instante, tentados estarão de arrastar-nos a todos no seu ultimo lamento, concentrados na avareza de ver seu umbigo decaindo: sonharam em sua morte engendrar todas as mortes.
Devereis ser fortes, pois eles têm desejos à venda ante vossos rostos, e sabores de seus odores que nada trazem a entender-se com as flores do paraíso, e tomarão o caminho da indecência antes vossas frias caveiras.
Nem sempre eles vão vencer.
Seu tempo, noutro tempo foi, embora que persistam, ate o ultimo suspiro em ser imortalizados.


Artur Alonso