segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Ruas desertas.


O mesmo som a se repetir nas paredes que nunca terão historia.
Dentro encontra-se um oco, mas ele mesmo, em um momento alcança.
Chegou hoje, como podia ter chegado na hora em que ninguém escuta os bêbados
ou afogados.

O mesmo som a repetir-se no adro do palácio,
nas campas onde os túmulos não são mortuários, no entanto sim fechados, e
no beco mais frio das ruas que foram abandonadas
pelo amor dos filhos mais novos,
que jogam seus instintos na corrida dum vento que (dele, o pai) os distancie

é o mesmo som a repetir-se por riba das montras, que abrigaram
no médio dia as praças;
acima das cúpulas onde as pombas ninhos nunca fazem
e preferem emigrar, por exemplo a Praga

diz que ele teria de ir com elas a qualquer parte do mundo
onde o mundo fizera dele parte.
Mas ele chega, no dia mais inoportuno, na noite mais afogada
para adormecer na terra de onde partiram seus âmagos,
e em silencio, como o colono roubado:
como os pulsos dos exilados.

Derrota trás derrota, o mesmo som lhe aguarda.
Ninguém aguarda por ele no cais,
ninguém pergunta se passa.
No ramo canta o galo: dizem que começa a madrugada...

Artur Alonso

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