sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010


Tantas vezes pensei, para ti,
a harmonia da chuva, tal vez, no teu cabelo,
na manha mais úmida, em que aquele raio de vida:
verdes as pupilas sobre montanhas verdes, refletiu
atrás das nossas costas,
aquele dia em que eu te recitei
por vez primeira teu primeiro e único poema.

Quantas vezes eu pensei nos seres
que habitam dentro de nós,
na sabedoria que dos mortos aprendi,
simplesmente,
para entregar-ta.

E tu a rejeitar-la como um costume,
porque aprendes-te na adolescência
que ninguém entrega nenhum embrulho
com ouro
em um feitiço de amor

Quantas,
tantas vezes eu à noite
quando tento afiançar-me no espelho
(não derrubar-me, surgir na luta),
Quantas
ainda pressinto, como se fora a voltar o inverno,
como se fosse algum dia outra rotina acontecer,
meus braços abrir aos teus sonhos
para nunca dos meus liberados os possam afastar
os medos que constroem nosso amor

Artur Alonso.

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