terça-feira, 22 de junho de 2010


Eu tinha acabado de fazer vinte e um anos
quando Henry Phipps, o catequista da Escola Dominical,
fez um discurso no Teatro Bindle.
“A honra da bandeira deve ser defendida”, disse ele,
“contra todos os ataques, venham eles da bárbara tribo dos Tagalogs
ou da maior potência europeia”.
E nós demos vivas ao discurso e à bandeira que ele brandia
enquanto falava.
Assim, fui para a guerra, contra a vontade de meu pai,
e segui a bandeira ate vê-la hasteada
no nosso acampamento, ao pé de um arrozal nos arredores de Manila,
onde todos a vitoriamos, uma e outra vez.
Mas depois havia moscas e coisas venenosas
e água estagnada,
um calor impiedoso,
a comida malsã, nauseabunda.
E havia esse cheiro da vala por trás das tendas
onde os soldados iam fazer as necessidades,
mais as putas que nos seguiam, cheias de sífilis,
e atos animalescos, praticados entre nós ou quando estávamos
sozinhos,
com desordens, ódios, degradação,
e dias de tédio, e noites de terror.
Por fim, o momento da carga através de um pântano coberto de névoa,
seguindo a bandeira,
até que caí com um grito, baleado nas entranhas.
Agora sobre a minha campa em Spoon River existe uma bandeira!
Uma bandeira!

Edgar Lee Masters
Poema: Harry Wilmans, Do livro “Spoon River”

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