quinta-feira, 29 de outubro de 2009

?


Levantam as folhas outono
invernos na pele descida

cometem os homens covardes
maiores medos na fúria contra os vencidos.

Na dor dos humildes
uma estação adianta suas chuvas,
ao igual que o experimentado alça
muros de rancor onde o amor não consegue

não consegue, não !

e é úmido o paladar
na lama fresca da avenida

como tórrida a mulher
que vende suores nas camas rendidas
ao vapor do nosso corpo.

Ao tempo que quantos em quartos também se alçam
contra os homens atraso, afeitos ao descuido,
com oportunidades que evocam voar de pássaros fogo artifício

alguma vez renunciam
e chamam-se gozosos

outras não!
Não conseguem, não.

Porque possível a lua nem sempre
agora que a soma duma aurora provoca delírio
na voz que te procura a distancia

E mesmo assim não se consegue,
não se consegue não
mudar de rumo num ultimo dia.
Artur Alonso

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Marraquexe


Se quiseres ver
Tens de ir a Marraquexe

Há um contador de fabulas
que levanta pólen
formando romeiras,
a cada pancada de seu pé direito

e serpenteia cada braço
num rito consciente,
enquanto escuro o ventre palpita
retumbar ecoando sonhos
de tribos nômades perdidas,
presságios antigos
ainda não satisfeitos

a sua historia atendem
entusiastas as crianças,
os homem supõem visitar alem o adentro
e as mulheres, por um segundo, evadem
libertadas de um severo olhar
as túnica gastas no vento


Se em verdade
abres os olhos
poda ser que penetres
por fim em Marraquexe

onde a luz solar flutua areia âmbar
o tempo é teu inconsciente
e aquele supor, agora faz parte
de um processo, pesado descanso

Na praça do enforcado estatuas vagueiam
e à cerimônia antiga, cumprido ritual,
as casas fazem círculos de adobe trás a lua

Senão foste flauta de alento
perde-te hás
profundo no seu cetro
e já não poderás divisar sinais nas ringleiras
de palmeiras em sombra fresca

Não te será oferecida bem-vinda
nem avançar poderás
por estas portas sempre abertas

Para entrar em Marraquexe
é preciso deitar fora
toda carga que nos pese.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

filhos do Deus da Chuva


Decide então a chuva chamar-te.
Vou de carro, disseram que a chuva tem essa força. Decide chamar-te como quem visita um velho amigo, e te sussurra ao ouvido palavras que não podes estimular e que nem sequer te pertencem.
A chuva te penetra do tutano a voz. Invade-te a alma e conquista humidades que já contigo andavam antes da nascença, como líquidos a te relembrar que todo viera da água em semente.
Porque a chuva como tu provem do principio dos tempos.

Decide então a chuva permear-te.
- esqueces-te os velhos tempos? – Eras tu no café às onze horas a dizer-me suavemente que o mar estava longe, que eco da vinda nas ondas fora um perfume para ti, e eu de todo perdido em aquele mundo longínquo e impreciso.

- Esqueci os velhos tempos. Sim, esqueci. Por que às vezes é necessário dar um fim a nenhum começo. E neste filme os últimos sucessos ainda falavam a modo de ciúmes de ti, dos teus cabelos e os teus olhos, nos que agora eu só lembro o perfumo de outro sol.

Decide ela, a chuva, tu não. Tu não reparas porque achas como homem tudo esta atrasado, na ponta do pé, onde supões tens dominós, ainda que a terra que pisas nunca fora tua vizinha, nem tua amada, nem sequer tua.
E por cima sem acordar, compões falsos conceitos, porque há tanto e tanto te esqueces da força que envolve a continua corrente, que se chama num principio para os iniciados, mistério e para nós regresso.
Nem conta te das que é mãe, mulher, terra quem protege tuas pegadas acima do seu ventre.
Simplesmente a Mãe Terra e tu edificas nela para agradar os bolsos de aqueles que mandam futuros construir por baixo, bem por baixo, da sua cobiça. Mas no ventre da mãe prenhe desistes suster o alimento. Ela chora e tu sem reparar, pensas apenas na chuva e tal vez nos anos perdidos, que sempre se contam sem ter em conta que o faz.

A chuva decide. Decide sim por que tem o poder de despertar os processos.
- Vem à beira mar, em inverno a beira mar fica para nós como única costa.
- Sei bem, porque esta desabitada.
E gostávamos assim passear, tu do meu braço, enfiando memórias de alguém que fica na distancia estonteando com que nunca volta.

E uma pequena aldeia, ilhada da presa de viver, em concerto com as normas de outrem, se inicia na própria identidade. E tu gostas e ao mesmo tempo que estranhas antigas luzes: A distancia junto ao mar.
O mar que tem esse magnetismo que apanha os corpos, mas não decide simplesmente se conforma com o tempo num lugar parar, para determinar o rumo das horas. Qual suas horas constroem relógios em cada cérebro de areia.

- Ola,
chegas-te a dizer, porque duas pessoas que compartilham uma mesma praia, a tarde no cair, deveriam ao menos compartilhar um percentagem das falas lindas.

- Ola,
chegas-te a dizer muito tempo depois, a cada tarde, como o inicio da conversa tivesse a força ser demorado por longas épocas de silêncios.
Soube depois teu nome Maria, soube também dum destino em fugida. Teu marido a 3 centos de quilômetros, eu aqui tão a perto, e uma casa vazia, os lençóis a certo ardendo ... e os desejos solitários que abrem noites a ternura...

Se iniciam com chuva bem sei, como ambos iniciamos molhados os corpos o sabor desconhecido das próprias carnes nossas.
Artur Alonso

terça-feira, 20 de outubro de 2009

FIM DO PODER AMERICANO.


Por Artur Alonso Novelhe


Depois da crise financeira de Setembro de 2009, nada no mundo voltará ser o mesmo. A crise foi criada devido às baixas taxas de juro que forneceram acesso a dinheiro rápido e fácil. Esta multiplicação dos ativos monetários estava sustentada em empréstimos bancários de alto risco sobre hipotecas, na maior parte dos casos pertencentes a famílias americanas de classe media, com rendimentos relativamente baixos. Ao aumentar o crédito hipotecário aumentou a procura no sector imobiliário, que a sua vez impulsionou a demanda de títulos, formados por pacotes de hipoteca, o que aumentou o movimento especulativo a grande escala no mercado dos famosos “hegde funds”, dos quais os grandes bancos norte-americanos eram os maiores possuidores. Todos sabem como este castelo de naipes desabou.


O plano governamental de apoio e resgate ao sistema financeiro tentou evitar o colapso do mesmo, despejando milhares de milhões de dólares, do contribuinte americano para o sector bancário para salvá-lo da falência.A sua vez este estimulo foi aproveitado pelas grandes instituições da banca para a aquisição de bancos menores, ao tempo que se despejava no mercado das ações milhões e milhões de dólares, que foram acrescentados à balança da Reserva Federal, produzindo um novo inicio de outra bolha especulativa, que mais cedo ou tarde acarretará graves problemas.Para além disto, o inchaço orçamental do sector do complexo industrial militar, efetuado uma década atrás, e continuado até o momento, ademais das sucessivas guerras e desdobramento de tropas nas áreas em conflito, levaram ao governo dos EUA a aumentar exponencialmente a sua divida interna ate limites muito perigosos.


Até o momento esta dívida era reciclada com a compra de Títulos do Tesouro Americano por parte de terceiras potências, nomeadamente o Japão, União Europeia e Emiratos Árabes, contribuindo acertadamente para a estabilização e conservação do dólar como divisa de referencia global. Desde há já alguns anos a China e o Brasil, segundo e quinto credor respectivamente, se acrescentaram a este grupo.Eis o porquê de todo o sistema económico global americano assentar na fortaleza do dólar.Mas agora esta situação esta cada vez mais a ser posta em causa.


O convencimento das companhias privadas de que o domínio dólar esta a chegar ao seu fim é verificável pela cada vez mais avultada quantidade de outras divisas que estão a ser colocadas nos seus fundos de reserva, e em simultâneo que se desprendem cada dia, com mais fluência, dos montes de dólares que têm em excesso. Com o mercado interno enfraquecido pelo endividamento da classe media americana, assim como pela aniquilação de emprego e pela substituição de trabalhado medianamente remunerado, por mão de obra imigrada com salários mais baixos, o único que realmente resta ao Império americano para manter a sua hegemonia económica é o controlo do dinâmico sector financeiro internacional, dado que até nos últimos anos o deslocamento das manufaturas tem iniciado também a deslocação de empregos de alto valor acrescentado, como podem ser as engenharias em software ou a tecnologia da informação.


Daí que ao acabar o recurso a mais empréstimos, o consumo interior americano tenha poucas possibilidades de estabilizar-se e muito menos de crescer. Se as famílias americanas não podem comprar ao ritmo de antes, o sector financeiro não poderá suster a especulação, nem o governo poderá seguir endividando-se ao ritmo que precisaria para manter a sua superioridade universal. Pela contra novos mercados ficaram beneficiados do enfraquecimento do mercado norte americano. Mas para que isto suceda sem amargas rupturas no sistema do capital, é preciso evitar uma depressão intensa de grande escala que expluda no, ainda que cansado, vigente pulmão das finanças internacionais. Por isso acreditamos que o capital mundial, inteligentemente vai tentar prolongar a depressão, enquanto devagar se vão deslocando os pólos de domínio hegemónico do sistema mundial.


O défice orçamental e comercial dos EUA está a forçar a queda do dólar, portanto também o poder do Império universal. Assistiremos a um recolher táctico de muitas áreas do planeta; a perda de influencia sobre estas regiões animara a novas potências a preencher esses ocos e também a retirar das suas fronteiras imediatas a presença americana. Nas zonas de fricção – entre recuos do Império e desdobramento de novos atores – podem produzir-se múltiplos confrontos. Para previr ou regular os mesmos será necessário que as novas potências emergentes tenham mais capacidade de decisão no cenário e nos organismos internacionais. Pelo qual será preciso, nos próximos tempos, a modificação e adequação dos novos organismos e foros às novas realidades. Então o mundo deixara de ser unipolar e as tomadas de decisões dependeram dum mais amplo consenso.


Por outra banda os novos mercados mais pujantes receberão com mais fluência novas entradas de capital, isto fortalecera os seus mercados bolsistas frente à Wall Street e a City londrina. Na maioria destes países com mercados ainda virgens, o Estado tem um peso mais destacado na economia, detendo o controlo dos sectores estratégicos como os hidrocarbonetos e as novas energias.

Para evitar repetir anteriores erros de certeza que o Estado continuará a funcionar, nestas novas potências, como regulador, redistribuindo as rendas e aplicando uma política fiscal que grave percentualmente o capital de ganho obtido pelas grandes companhias, ou bem aceite parecerias em áreas tecnológicas onde ainda precise ajuda para o seu desenvolvimento e capacitação.


Ainda que pareçam mentira estas novas medias podem trazer consigo o fim do modelo económico em que hoje assenta o mundo, e tem provocado tanto a hegemonia total como o derroca dos EUA.

sábado, 17 de outubro de 2009

18/10/2009 GALEGO SEMPRE MAIS




Tivemos um tempo para alçar a nossa língua,
e esse tempo foi o da amarga derrota.
Tivemos um imenso, escuro tempo no caminho
para ocultar a nossas raízes dos seres que no-las cortam,
e esse tempo não foi perdido, criação de resistência nas sombras.
Tivemos um tempo pequeno para ser, dizer por nos mesmos
e comungar com um mesmo universo

dentro do mesmo oceano oposto
e esse tempo sim foi perdido, por viver no antigo sonho.
Temos um tempo agora para dizer não
para afirmar alto e claro quem somos
e mostrar ao mundo os nossos corações.
Ainda vamos ter uma oportunidade de abrir-nos a luz
E depois se fecharão, sem ranger, todas as portas.
Teremos, ainda assim, mais um tempo para concretizar
E de agora em adiante só de nós dependera
saber si queremos seguir tendo o tempo conosco..





Poema de Artur Alonso

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

OS DEUSES


Os deuses não falam com pedras e flores.

Nós comemos carnes vermelhas
enquanto a rapariga de fome morre

e o mármore é praça,
o centro um círculo para comemorar
as velhas cerimônias.
Em seu inicio fora pedra filosofal.

Comemos carne
para que o ventre das aias
não fique sem alimento
dado os medíocres serem sempre insaciáveis

e os deveis, por descuido, a miúdo ausentes.


Os deuses nos falam no Livro das Homenagens

Enquanto o sol avança pelo meio das pedras altas
E ruídos ficam os braços com frio
de aqueles que arriscaram conquistar
um tumulo no mármore, dormidos

e precisamos todavia dum refugio certo ao alcance,
na penúltima coluna, no penúltimo lugar sacro,
por onde a luz no solstício penetra
desde as primeiras madrugadas

daí que quando precisemos certezas
inventemos, oculto, um ninho sem ramos

mas os Deuses não precisam de cores imaginarias
nem reparam no sentido, das ramas entrelaçadas
sobre os peitos das musas
que amaram a espécie humana


Nós bebemos seu cálice
sonhamos seu sonho realizarem
e depois ao despertar tão só resta do mesmo o orvalho
Eles não apaziguam nossa dor
nem precisam sacrifícios ordinários,
no altar o cordeiro e na vida a reta palavra.

Pode a escolha errar, mas nunca é inevitável,
a pesar de no seu nome se acumulem os cadáveres
Artur Alonso.