quinta-feira, 15 de outubro de 2009

OS DEUSES


Os deuses não falam com pedras e flores.

Nós comemos carnes vermelhas
enquanto a rapariga de fome morre

e o mármore é praça,
o centro um círculo para comemorar
as velhas cerimônias.
Em seu inicio fora pedra filosofal.

Comemos carne
para que o ventre das aias
não fique sem alimento
dado os medíocres serem sempre insaciáveis

e os deveis, por descuido, a miúdo ausentes.


Os deuses nos falam no Livro das Homenagens

Enquanto o sol avança pelo meio das pedras altas
E ruídos ficam os braços com frio
de aqueles que arriscaram conquistar
um tumulo no mármore, dormidos

e precisamos todavia dum refugio certo ao alcance,
na penúltima coluna, no penúltimo lugar sacro,
por onde a luz no solstício penetra
desde as primeiras madrugadas

daí que quando precisemos certezas
inventemos, oculto, um ninho sem ramos

mas os Deuses não precisam de cores imaginarias
nem reparam no sentido, das ramas entrelaçadas
sobre os peitos das musas
que amaram a espécie humana


Nós bebemos seu cálice
sonhamos seu sonho realizarem
e depois ao despertar tão só resta do mesmo o orvalho
Eles não apaziguam nossa dor
nem precisam sacrifícios ordinários,
no altar o cordeiro e na vida a reta palavra.

Pode a escolha errar, mas nunca é inevitável,
a pesar de no seu nome se acumulem os cadáveres
Artur Alonso.

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