domingo, 31 de maio de 2009


galeguismo do x.21


1.- A Identidade galega é um continuo histórico, que chega ate os nossos dias.
2.- A historia da Galiza é tão rica como a de quais quer povo, e Galiza tem sido em diferentes períodos históricos, referente principal e ator privilegiado no acontecer europeu.
3.- Galiza ficou por desígnio geográfico encravada no setor geo-estratégico do Atlântico, a aliança com mundo atlântico e as ilhas britânicas é um vetor natural de desenrolo
4.-Galiza é matriz do mundo galáico ou luso, pelo que a aliança com o mundo Luso e Portugal forma parte do outro vetor de desenrolo e visibilidade internacional.
5.- Galiza forma parte da Península Ibérica pólo que defesa no marco peninsular duma cultura especificamente atlântica e a luta pela consagração de esse espaço, dentro da península é vital para interesse galego.
6.- Galiza forma parte da Europa, a decadência da Europa não é bom para a Galiza, pelo tanto a peleja por uma Europa mais forte no plano internacional, é fundamental para a realização da Euro-região Galiza Norte de Portugal.
7.- A defesa da coesão e progresso da Euro-região Galiza Norte de Portugal, e a luta por uma Europa unida, onde as velhas nações se diluam para criam um poder único Europeu, deve ser um reto futuro no que Galiza não deve temer apostar. Uma Europa unida no político e divida administrativamente pelas Euro-regiões, com representação ativa numa Câmara Parlamentar especifica, deve ser um projeto a levar em parceira com o resto dos povos da Europa, para num futuro tentar entre todos os cidadãos europeus tirar a União Européia da aparente imobilidade na que agora se encontra.

Tomando em conta estes vetores é preciso completar o nosso espaço identitário com processo lingüístico. A Língua galega, no seu evoluir histórico, sendo também a Galiza a matriz do mundo lusófono, e o berço de donde evoluiu livremente a Galiza Bracarense, o chamado Porto Cale, não pode ficar presa de normativas isolacionistas e deve procurar iniciativas que tendam a inserir a língua no tronco comum luso-galáico, evitando tácticas que a afastem do seu rico marco cultural atlântico, neste preciso e precioso momento em que por todo o globo se estão a dar reações contrarias ao isolamento, que visam unificar as línguas em clave de reintegração, para consolidar espaços geográficos no marco universal.
Pelo que devemos encorajar o movimento galeguista a nível particular, e institucional se for o caso, a implantar para já o Novo Acordo Ortográfico, que esta a ser assinado por todos os países galego falantes ou luso falantes, pois este deve ser um vetor fundamental do novo galeguismo, sem o qual num mundo globalizado as perspectivas duma língua construída a base de provas de laboratório, e isolada do marco de referencia, convivência e enriquecimento mutuo, são escassas ou nulas.

estracto do artigo Novo Galeguismo de Artur Alonso

sábado, 30 de maio de 2009

Escuta amigo

Além da terra, pelo Infinito
Procurei, em vão, o Céu e o Inferno.
Depois uma voz me disse:
Céu e Inferno estão em ti.
Os Rubayat de Omar Khayyam


Escuta amigo, o lado feio, das viagens tristes. Escuta a onda repressiva sob as cabeças dos que faz agora hora e meia, uma dia, tal vez dez minutos ou oito séculos tínhamos recuperada a memória distante da dignidade roubada, que te roubam ainda e tu sem saber, porque és homem, mulher e precisas da paisagem.
Abre a faze dormida do inverno contra a brêtema do sul. Eis que não admira que sejam em nós limite e vidas sobre vida a nossa vida misera, vertida no fundo mar.
Depois que encontraremos?
Encontramos uma caverna, rochas quebras doridas de um céu tão azul... E falésias que acreditam e porem são abismo.
Derrubaram mais tarde o grande muro da vossa indiferença, com a consciência unida de muitas noites imersas nas garras do terror, a loucura, a paixão devoradora de insaciáveis... E agora estamos aqui no lado feio das viagens tristes, onde o comboio aquieta, a nau encalha, às vezes para sempre o vento deixa de latejar no rosto quente da beleza úmida, que é mal tratada pela voz dos donos que nunca tem suficiente. E tudo possuem, salvo o fresco coração, deste povo antigo na imagem da dor, das pedras em circulo e os deuses da salvação...que estão, ouve, acudindo.

estrato do poema Viagens Tristes. Artur Alonso

Um outro mundo é possível?

“O ponto fraco obvio de toda a estrutura política, ideológica e econômica que comanda os Estados Unidos de hoje é que o sistema fracassou claramente em atender às necessidades reais do povo. Ao invés de corrigir estas necessidades prementes na crise, a ênfase dos senhores da economia é salvar o capital privado virtualmente sem qualquer custo. Entre Outubro de 2008 e Janeiro de 2009 o governo proporcionou cerca de 160 mil milhões de dólares em capital, injeções e garantias de divida aos bancos...
O roubo de fundos públicos para salvar capital privado encontra-se agora numa escala jamais vista. Uma classe operaria politizada e organizada capaz de entender e reagir àquele roubo, e optar através disso por reestruturar a sociedade, para atender reais necessidades sociais igualitárias é o que deve ser esperado...
...Estamos num momento diferente no qual as forças sócias podem avançar.”
Jonh Bellamy Foster

sexta-feira, 29 de maio de 2009


Queria dizer-te muitas cousas
queria dizer-te quantas vezes ultimamente
a tua imagem luminosa atravessou
os espaços sombrios da minha alma;
queria dizer-te como é bom
acordar todas as manhas
sabendo que o dia encerra
uma cousa que és tu!

Queria dizer-te tantas cousas
queria falar-te dos momentos que mudam de cor,
da linguagem secreta e silenciosa
de corpos fazendo amor
querida dizer-te que estás sempre
apenas tão longe de mim
como os pensamentos o estão do pensar.

Queria dizer-te que te amo
em muitas línguas estrangeiras,
mas acima de tudo (o que mais difícil)
na nossa própria língua

queria dizer-te muitas cousas:
mas parece que todas elas se perderam
em algures pelo caminho. E agora que aqui estou
não sou capaz de dizer nada a não ser
olá, e sim, quero um café, e
sobre que havemos de falar
antes que a noite se acabe?

(Peter Rocha)

TENTATIVAS DE EXPANSÃO

A consciência comum galego-portuguesa ainda esteve bem desenrolada por todo o século XIII e XIV. Mas uma nobreza galega confrontada em pequenas lutas locais de delimitação territorial do seu poder acende o lume das guerras Irmandinhas e ficará extenuada, posteriormente, para no marco da doma e castração deixar-se agrilhoar após da presença dos Reis Católicos na Galiza.

Galiza perde então a supremacia na luta peninsular que continuara pela sua vez Portugal, e que mesmo na época de D. Manuel I não renunciara a ela por todos os métodos possíveis, mesmo com o casamento de este monarca com uma infanta de Castela, que a posteriori condenara a coroa portuguesa, com o apoio da nobreza fundiária, a entregar-se traz uma guerra desigual, a mãos de Filipe I de Portugal, Felipe II da Espanha.

Em 70 anos os Espanhóis conseguem em Portugal, uma total castelhanização das Instituições e os Altos poderes do reino. Quem não se lhe faria depois ao galego com tantos anos de domínio sobre ele? No entanto o português depois da primeira castelhanização fica livre no 1.640.- após a longa guerra de Independência. Galego-Português e Castelhano vão ser então as novas línguas francas e dominação no novo espaço mundial criado pela navegação.

Nas colisões globais da época, tanto Portugal como Espanha, assim como a Holanda, cedem seu esplendor à nova Europa capitaneada pela Inglaterra. O inglês vai passar então a ser o dominador, ainda que por muito tempo o francês seja a língua chique.

E dizer lutas globais, lutas regionais, encaminhadas a conseguir a supremacia. Para poder aspirar a uma luta global ha que ter bem consolidada a frente regional: um conflito político controlado, sereno, uma economia em processo de expansão, um acordo social táctico de apoio a nova aventura e o desejo de segui-la, expressada num sentimento de poder expandido, tantas vezes induzido pelo controle da comunicação e das mensagens ajeitadas, assim como fortes setores econômicos envolvidos no processo.


dum Artigo Publicado no Portal Galego da Língua de Artur Alonso

quinta-feira, 28 de maio de 2009


Aberto ao meu mundo 04


Se o teu espírito não estiver nublado por cousas
desnecessárias
Será este o melhor período da tua vida
Poetas chineses do Wu- Men.


Lembro que desde muito menino conheci o jardim soalheiro, junto as sombras que ele mesmo desprendia, para com elas perder-me.
E perdi a vida muito cedo, abandonando-me a mim próprio nos falsos sentidos, longe da mãe e de aquilo que significa no coração mais tenro a palavra família.
Lembro, pois uma família falecida em volta dos meus primeiros passos pela relva, descalço com amigos arredor (etéreos) que nos falam sem falar, como o vento quando mexe as folhas do salgueiro, o sabugueiro, os juncos que inventaram o som doçe das flautas.
Lembro uma escola na que era prisioneiro, como a mais crua das sanguinárias fugidas, em um tempo de paz forçado e envilecido; frias eram as guerras.
Lembro ser injustamente repreendido, por tentar em sonhos visitar um local imaginário, só para mim habitável (desde então procuro quem comigo queira compartilhá-lo).
Lembro os inimigos do riso, enfiados em pretas saias, camisas brancas, cavalgar sobre mim como lobos famintos que se emborcavam, sempre acima da presa mais fácil, fraca e minorada nas suas faculdades.
E me lembro cercado, sem outra mobilidade, sem outra possibilidade que agachar-me e agüentar, nas espera de sofrer essa noite, uma agonia interminável.

quarta-feira, 27 de maio de 2009


Condição humana 01

Tremia tanto que o vento a levou,
tremia tanto como não a levaria o vento
lá longe
um mar
lá longe
uma ilha ao sol
e as mãos apertando os remos
morrendo nos momentos que o porto apareceu
e os olhos fechados
em anêmonas do mar

Tremia tanto
procurei-a tanto
na cisterna com os eucaliptos
na primavera e no verão
em todas as nuas florestas
meu deus procurei-a


do Poema: A Folha do Choupo de Yorgos Seferis

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Beleza e Pátria
Se eu pudesse descrever a vida em seu inicio, falaria do nascer no sol, na costa mais remota, na ponta das fisterras. Então, se eu pudesse dar do universo a luz ou em teus olhos refletir a beleza do momento, falaria do clamor luminoso que encontra o seu verdor nas areias paraíso, como marco onde se refugia a iluminação do mundo, depois de tão longo percorrido.
- Daí se namorou: do ser que era, em mim, poeta.
Agora acho todos estes anos foram deitados no lixo ate que ela apareceu. Apareceu quando eu ainda suspirava encontrar uma forma de deitar semente neste berço, apagado pela sombra do poder, que é grande, imenso e astuto, como o lobo que devorou dos montes onde era ceive.
Gostava do local de nascença. Mas isso bem poderia haver sido ontem

-assim chegas-te tu

- fora bom enviar uma mensagem - e ademais tão gostosa...
Alem do extenso mar estão às ilhas da eterna primavera, e aquém, por trás, as montanhas altivas que ergueram os deuses e sonharam heróis indomáveis para imortalizar seus nomes em pedra.
- E é tu pais, um país onde a gente se desconhece. -agora meu país és tu

-sinto que já não possas continuar a luta
A luta tinha um sentido antes de Helena, tinha. Mas eu já assistia canso aos últimos dias com derrotas afligidas.

-Não temos os médios

-Mas vocês têm o coração... Seu coração é forte

-Era mesmo antes de conhecer-te a ti
Iludi as responsabilidades: porque Helena chegou e arrombou toda minha vida. Deu vida a minha saudade, deu aroma a meu prazer. E nunca lhe compensei, também ela nunca quis ser recompensada.

- Quero que ames a tua pátria tanto ou mais do que me amas a mim

-não tenho tempo para fantasias... Agora mesmo só estamos tu e eu: o futuro nosso não tem raça

-mas tem raízes... E se tu delas te perder nunca poderias dar-me o que levas dentro. Vazio ia ficar e sem uma alma vagaria eternamente arredor do meu espírito, como um simples satélite desistindo da gravitação, própria.
Assim que não há solução, seguiremos a lutar por esta terra que nem sequer pode, lhe deixam escutar aos filhos que morrem por ela.

- E a pesar de tudo ela estende seus braços quando vocês falecerem em médio do anônimo sino.

Diz Helena, como quem diz a verdade, falando devagar consigo mesma.

Identidade 02

De acordo com um novo estudo científico, nações celtas como a Escócia ou Irlanda têm mais a ver com os portugueses e galegos (sic) que com os celtas da Europa central
O Doutor Daniel Bradley, professor de genética na Trinity College, comenta como um novo estudo das origens dos celtas revelou essas afinidades com as gentes da Galiza.
Os historiadores deram por crer que os celtas, em origem Indo-Europeus, invadiram as ilhas atlânticas numa migração maciça há 2500 anos. Mas após da análise de mostras de ADN de gentes de outras partes da Europa, os geneticistas desta universidade irlandesa encontraram novas evidências.
O Doutor Bradley comentou que possivelmente houve uma migração do Noroeste da Península Ibérica à Irlanda tão cedo como há 6000 anos, como mínimo há 3000. "Nom acredito na idéia duma migração maciça das Ilhas Britânicas na Idade do Ferro. Um pode considerar o oceano mais como uma rota de comunicação que como uma barreira", diz o Doutor Bradley
Os arqueólogos também levam tempo questionando os vínculos entre os celtas da França oriental, do sul da Alemanha e os das Ilhas Britânicas, e as novas investigações parecem provar as suas teorias. O estudo da universidade dublinense revela que áreas tradicionalmente consideradas célticas, como Irlanda, Gales, Escócia, Bretanha e Cornualhes, apresentavam fortes vínculos de união de uma com a outra, e que tinham ainda mais em comum com as gentes do Noroeste da Península Ibérica.

deverias,
deverias – a ti repetes –
voltar aos dias da tua infância.
Talvez aqueles
onde caíam os cachorros
buscando a morte
e tua jovem tia solteira trazia os recém-nascidos
numa canastra de compras.
Tua infância nom volta de pronto à memória.
Há etapas.
Que não querem empreender o caminho de regresso
nelas estão teu cão envelhecido,
tua galinha de a três anos
e a sombrinha que a negra Elisa te deu
aos sete.
Não há paisagens apenas a vazia terra de adobe.
Vagos são teus anos e também o crescimento do corpo
ou o nascimento destes desejos que te atacam.
Deverias – a ti mesmo repetes –
voltar ao perfume da tua mestra.
Mas, que importa isso agora ?

Poema : Um moço no meio do século de Harold Alvarado Tenorio (Colombia)

sábado, 23 de maio de 2009


Aberto ao meu mundo 03

Lamento profundamente vezes incríveis, que não pude harmonizar a minha vida com a tua. Lamento profundamente que muitas outras o meu centro ficasse paralisado pelo medo, e a minha vontade não prevalece-se. Porque de não ter sido desse modo eu não teria agora que dar-te uma desculpa, a ti e a vida.
Artur Alonso

“Não me maniatei. Dei-me totalmente e fui
aos deleites que metade real
metade voltados dentro da minha cabeça estavam,
fui para adentro da noite iluminada.
E bebi os vinhos fortes,
tal como bebem os denodados do prazer.
Constantine Kavafis.


MUITOS

Destruímos cidades
cujos nomes nom invejamos

pus um colchete em tua orelha

falavas falavas
como se fose possível aliviar metáforas

ante eles
nada serves
disseste

eram muitos
adverti
muitos e nós vivemos apaixonadamente

muitos
proferimos
nosso amor se compom de nom atender vilezas

nem entender
dsfrarçar espécias


Demos licença usar nosso rosto
combinamos cartazes onde as barcas figuram
remansos agradáveis

poir ainda
confiamos nossos filhos a cuidar em seu proveito

Muitos
que pode um fazer senom acomodar desejos

muitos muitos
que poderemos amanhá tentar
agora que milhares exploram azulejos...


Artur Alonso, do livro: Uma Meixela depois a outra.



Identidade 01

“A céltica européia consiste em realidade numa interminável reticula de milheiros de comunidades políticas autóctones ou interdependentes”... “dispostas a modo de mosaico, falando línguas semelhantes, em maior o menor grau”... “Mas esta reticula multicor responde a um único impulso organizativo, a um compromisso territorial e compartilha uma comum fé”... “A Céltica conforma-se dum jeito comparável ao da Europa Medieval, fracionada politicamente, mas unida pela estrutura piramidal da Igreja Católica Romana”.
“Velava por esta estrutura um enramado ordenamento político teocrático, expressado em clave religiosa, baixo a autoridade dum colegiado clero que, na sombra, como o veria César, constituía na realidade o poder verdadeiro”...
André Pena Graña (Cerimônias celtas de Entronização Real na Galiza)

sexta-feira, 22 de maio de 2009


Campo de Provas


Digo o nome como quem diz nenhures
Porque o nome que foi verbo tem um hospital em ruínas
e filhas violadas e rostos de filhos
impotentes

sei de uma coroa e um espinho
poderia ser ele, ou tal vez seu pensamento
e me nego acreditar que seja simplesmente tempo

o principio da morte

Logo, mais tarde
choro diante do grande assassino
e peço refugio
porque conheço a cinza nos olhos das caveiras
frias
e baixei a serra
e caminhei descalço pela região do universo
escuro

Soube que era ela
a pesar de que não tinha as mãos, a língua
para admirar as campas onde florescem as noites,
para chamar as estrelas
na sua guitarra sonora
e eu ressucitar...

Um outro mundo é possível?

“....Indiferente ao fato de lhes faltar a mais elementar legitimidade democrática, convertendo as três organizações – Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e Organização Mundial do Trabalho... – nos únicos órgãos do governo da economia globalizada, e liberalizando o funcionamento desta como Adam Smith tinha preconizado: trocas livres, câmbios livres, competição livre, investimento e desinvestimento livres, especulação financeira livre, localização e deslocalização livres, emprego mais flexível, salário o mais miserável, consumo o mais possível, distribuição limitada à procura solvente, lucro quanto mais melhor. E para isso, sobretudo, regulação política internacional nenhuma! A nível nacional, a progressiva dispensa do Estado-nação como regulador econômico. A nível universal, a globalização econômica sem organização, sem controlo político nem regras.
... A globalização econômica a funcionar sem regras e sem controlos, isto é, sem uma disciplinadora globalização política, é uma fabrica de pobres, analfabetos e desempregados.”
Antonio de Almeida Santos, do livro: Que nova ordem mundial?

quinta-feira, 21 de maio de 2009


Aberto ao meu mundo 03

...As palavras de que sabemos tão pouco, ou de que é possível saber tão pouco, as palavras seixos, que caem na nossa boca como cigarros a arder, e de que sacudimos as cinzas e as brasas no casaco, as palavras com revelo e peso, que ficam para trás e que não podem ser recuperadas nem nunca inteiramente repetidas, porque são outras, porque nunca são as mesmas, a reaprender as cores, que não há, também não há cores claro, só versões pessoais...
Artur Portela do livro “Rama, verdadeiramente”...


... Nasci no México D.F., sinto que o meu caso não foi por acaso, não foi eventual. Assim tinha de ser e assim foi, porque os Deuses do Sol, a Lua e a Chuva (aquele que chorava sobre o vale, no tempo dos outros homens), quiseram. E ainda posso perceber, como si a pituitária fosse, um elenco de recordações, os aromas da terra úmida quando escampa o vento sul e o serão apalpa por um instante a noite, uma vez a trovoada mais doce do verão, se fora embora para deixar-me saborear a argila outonal na minha garganta fresca.
Mas também com mesma força, as imagens dos velhos soutos, os odores das chairas quentes, qual as descidas a carvalheria para renovar; na aldeia onde senti pela primeira vez o chamado dos seres que ainda me amam, são antepassados e moram, sem nos saber, a lado do nossa casa. No interior da alma, no centro do coração que agradece o ensino da mãe que trouxe ao mundo a mãe daquele que um dia se levanta...

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Aberto ao meu mundo 02

O destino plantou-me aqui
e arrancou-me daqui,
e nunca mais raízes me seguram bem
em nenhuma parte...
(Miguel Torga)

De jeito que eu sou um filho do eterno exílio: a nenhuma parte pertenço e nenhuma parte em mim é um lugar incomum. De cada local que me abriu suas portas, feito é, como em encaixe, ardente meu coração.
E, no entanto minha estirpe é galaíca, meu espírito celta, hipnotizado pelo mar; e a minha rota a de todos os seres, tecendo com a vida que lhes rodeia uma teia universal que invade todos os territórios.
... Se tivesse que cruzar o mar: eleger ia sempre o Atlântico.

Fragmento de Aberto ao Meu Mundo. Artur Alonso
In-comunicação

“ ...Os danos corporais e mentais que produz a televisão, os perigos de controlo social que inclui, assim como o tipo de realidade que nos impõe são efeitos próprios das suas características como tecnologia e são tão nocivos que deveriam ser eliminada para sempre. A televisão é tão reformável como som as armas atômicas nas mãos de qualquer exercito”.

(Jerry Mander)

terça-feira, 19 de maio de 2009

Do Caminho Feliz 001 (Chuang Tse)

Cada pessoa é o que devia ser, e pode viver com igual felicidade enquanto viver ajustada à sua própria natureza.
Aberto ao meu mundo 01

“O dia só nasce para o que estamos despertos”
H.D. Thoreau..

… Mas sempre tive um apego excessivo ao desejo, a paixão que se eleva ao contemplar a beleza. E o desejo, é conhecido, caminha de mãos dadas como a terrível ofuscação. E a ofuscação, já um imagina, nunca procura opiniões corretas; as mais das vezes julga tomar em conta só pontos de vista errôneos ou cegos, que nublam os sentidos ate o ponto de inventar inimigos incertos, como aqueles fantasmas que se erguem do poema de Kavafis…

“Não temas monstros como os Ciclopes ou o zangado Poseidão:
nunca os encontrarás no teu caminho
enquanto mantiveres o teu espírito elevado,
enquanto uma rara excitação agitar o teu espírito e o teu corpo.
Nunca encontrarás os Ciclopes ou outros monstros
a não ser que os tragas contigo dentro da tua alma,
a não ser que tua alma os crie em frente de ti.”


Do Poema Ítaca, de Constantine Kavafis
A ocupação do Iraque produziu nestes seis anos a completa destruição física do país e a desarticulação de todas as estruturas sociais. Isto traduz-se em fatos e em números pavorosos. Por exemplo: - 5 500 intelectuais mortos ou presos - 224 professores do secundário e 2334 professoras mortos - 36 prisões com 400 mil presos (6500 menores e 10 mil mulheres) - percentagem de detidos torturados: 100% - 5 milhões de deslocados e refugiados - 5 milhões de órfãos - 3 milhões de viúvas - 500 mil crianças sem abrigo - 40% da população abaixo do limiar da pobreza


Artigo de Manuel Raposa em http://tribunaliraque.info/pagina/artigos/depoimentos.html?artigo=421

segunda-feira, 18 de maio de 2009


Nos antigos cafés de Ourense aprendi a amar esta cidade...
Nos antigos parques me fiz homem, perdido entre a ramagem das arvores e os cheiros a um porvir que fingia deterem-se nas pedras amontoadas, nos faróis da noite e na lua do verão, eterna de fendas sabor laranja. Nas horas de regresso, sempre a casa demoradas, conheci o perfume oculto de esta insinuante cidade.
E em aqueles cafés ainda arrecende o aroma limpo das mãos, que a louça reluzente em estantes colocavam, enquanto eu olhando ao espelho, a delicada manobra contemplava, com uma atenção profunda e misteriosa, que indaga no fundo para ver a chama; qual o fumo penetrante das memórias de outra hora, desse outro tempo contadas, faladas devagar por homens velhos e animosos, que de tanto lutar em guerras esqueceram a soberba dos idiotas.
Amo os velhos cafés, como se amam as cousas que um instante permanecem, e a memória recupera por que de ti foram já parte, ainda que nunca voltaram, como não voltaram as tardes, orgulhosas de meu avo com o se neto contemplado, os sabores no café, de aquele local da “Regidora”...
Pertença
Ele era de um país que nom tinha nome.
Ela estava na idade de mudar a rota.

Diz que foi o vento, o vento que tem o poder de converter as rochas em cinza.
E nom muito fora assim, porque ele vinha dum lugar onde sempre se escondem os sonhos debaixo da areia (para cegar-lhes as estrelas).
E ela estava na idade de mudar as cores: no arco da velha, pôr telha no prado, ou verde que sobra debaixo da árvore... e ele tinha de mudar: suas formas.


fragmento do relato: "Pertença", de Artur Alonso

A língua Galego-Portuguesa é uma língua que se fala nos cinco continentes, sendo comum a mais de 300 milhões de pessoas. Tendo como berço originário a velha Gallaecia, se estendeu polo mundo no tempo das descobertas.
Esta língua identifica o nosso Povo e é uma forma olhar o mundo desde distintas perspectivas geo-históricas, todas elas com um nexo comum que esta no cerne da nossa cultura e das nossas raízes.
Qualquer ataque vier donde vier, à nossa língua é um ataque ao mais básico do ser do nosso povo, tanto do ponto vista espiritual como material ou cultural. Assim como por extensão também ao resto das nações que se exprimem na nossa fala.

Qualquer tentativa de limitar os direitos de esta língua dentro do espaço que por natureza lhe corresponde, é uma acto de agressividade contra os indivíduos que a usam e a têm por própria.
fragmento do: "Manifesto pela língua comum" da Associaçom Galega da Língua.
Que mais da porque motivo tua vida fosse alterada: por que era o mais fraco da sua escola, porque alguém de outro planeta alumiou controlar tua mente, porque os espíritos tristes da noite se apoderam de teu corpo. Que mais dá. O caso é que estas fodido, fodido e para sempre vazio.
fragmento do relato "O Louco", do poeta Artur Alonso.

Intuito

No prazer dos dias e das noites
procurei teu corpo

no perdido recanto da memória
achava tua sombra vigorosa

Ficava admirado a cada instante
que eles teu nome nunca adivinhassem

em cada fragrância,
em cada aroma estendido
como palma duma mão
que em milhares de rosas progredi-se

fragmento do poema “Intuito”, de Artur Alonso. Poeta Galego.