quinta-feira, 21 de maio de 2009


Aberto ao meu mundo 03

...As palavras de que sabemos tão pouco, ou de que é possível saber tão pouco, as palavras seixos, que caem na nossa boca como cigarros a arder, e de que sacudimos as cinzas e as brasas no casaco, as palavras com revelo e peso, que ficam para trás e que não podem ser recuperadas nem nunca inteiramente repetidas, porque são outras, porque nunca são as mesmas, a reaprender as cores, que não há, também não há cores claro, só versões pessoais...
Artur Portela do livro “Rama, verdadeiramente”...


... Nasci no México D.F., sinto que o meu caso não foi por acaso, não foi eventual. Assim tinha de ser e assim foi, porque os Deuses do Sol, a Lua e a Chuva (aquele que chorava sobre o vale, no tempo dos outros homens), quiseram. E ainda posso perceber, como si a pituitária fosse, um elenco de recordações, os aromas da terra úmida quando escampa o vento sul e o serão apalpa por um instante a noite, uma vez a trovoada mais doce do verão, se fora embora para deixar-me saborear a argila outonal na minha garganta fresca.
Mas também com mesma força, as imagens dos velhos soutos, os odores das chairas quentes, qual as descidas a carvalheria para renovar; na aldeia onde senti pela primeira vez o chamado dos seres que ainda me amam, são antepassados e moram, sem nos saber, a lado do nossa casa. No interior da alma, no centro do coração que agradece o ensino da mãe que trouxe ao mundo a mãe daquele que um dia se levanta...

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