Por Artur Alonso Novelhe
Depois da crise financeira de Setembro de 2009, nada no mundo voltará ser o mesmo. A crise foi criada devido às baixas taxas de juro que forneceram acesso a dinheiro rápido e fácil. Esta multiplicação dos ativos monetários estava sustentada em empréstimos bancários de alto risco sobre hipotecas, na maior parte dos casos pertencentes a famílias americanas de classe media, com rendimentos relativamente baixos. Ao aumentar o crédito hipotecário aumentou a procura no sector imobiliário, que a sua vez impulsionou a demanda de títulos, formados por pacotes de hipoteca, o que aumentou o movimento especulativo a grande escala no mercado dos famosos “hegde funds”, dos quais os grandes bancos norte-americanos eram os maiores possuidores. Todos sabem como este castelo de naipes desabou.
O plano governamental de apoio e resgate ao sistema financeiro tentou evitar o colapso do mesmo, despejando milhares de milhões de dólares, do contribuinte americano para o sector bancário para salvá-lo da falência.A sua vez este estimulo foi aproveitado pelas grandes instituições da banca para a aquisição de bancos menores, ao tempo que se despejava no mercado das ações milhões e milhões de dólares, que foram acrescentados à balança da Reserva Federal, produzindo um novo inicio de outra bolha especulativa, que mais cedo ou tarde acarretará graves problemas.Para além disto, o inchaço orçamental do sector do complexo industrial militar, efetuado uma década atrás, e continuado até o momento, ademais das sucessivas guerras e desdobramento de tropas nas áreas em conflito, levaram ao governo dos EUA a aumentar exponencialmente a sua divida interna ate limites muito perigosos.
Até o momento esta dívida era reciclada com a compra de Títulos do Tesouro Americano por parte de terceiras potências, nomeadamente o Japão, União Europeia e Emiratos Árabes, contribuindo acertadamente para a estabilização e conservação do dólar como divisa de referencia global. Desde há já alguns anos a China e o Brasil, segundo e quinto credor respectivamente, se acrescentaram a este grupo.Eis o porquê de todo o sistema económico global americano assentar na fortaleza do dólar.Mas agora esta situação esta cada vez mais a ser posta em causa.
O convencimento das companhias privadas de que o domínio dólar esta a chegar ao seu fim é verificável pela cada vez mais avultada quantidade de outras divisas que estão a ser colocadas nos seus fundos de reserva, e em simultâneo que se desprendem cada dia, com mais fluência, dos montes de dólares que têm em excesso. Com o mercado interno enfraquecido pelo endividamento da classe media americana, assim como pela aniquilação de emprego e pela substituição de trabalhado medianamente remunerado, por mão de obra imigrada com salários mais baixos, o único que realmente resta ao Império americano para manter a sua hegemonia económica é o controlo do dinâmico sector financeiro internacional, dado que até nos últimos anos o deslocamento das manufaturas tem iniciado também a deslocação de empregos de alto valor acrescentado, como podem ser as engenharias em software ou a tecnologia da informação.
Daí que ao acabar o recurso a mais empréstimos, o consumo interior americano tenha poucas possibilidades de estabilizar-se e muito menos de crescer. Se as famílias americanas não podem comprar ao ritmo de antes, o sector financeiro não poderá suster a especulação, nem o governo poderá seguir endividando-se ao ritmo que precisaria para manter a sua superioridade universal. Pela contra novos mercados ficaram beneficiados do enfraquecimento do mercado norte americano. Mas para que isto suceda sem amargas rupturas no sistema do capital, é preciso evitar uma depressão intensa de grande escala que expluda no, ainda que cansado, vigente pulmão das finanças internacionais. Por isso acreditamos que o capital mundial, inteligentemente vai tentar prolongar a depressão, enquanto devagar se vão deslocando os pólos de domínio hegemónico do sistema mundial.
O défice orçamental e comercial dos EUA está a forçar a queda do dólar, portanto também o poder do Império universal. Assistiremos a um recolher táctico de muitas áreas do planeta; a perda de influencia sobre estas regiões animara a novas potências a preencher esses ocos e também a retirar das suas fronteiras imediatas a presença americana. Nas zonas de fricção – entre recuos do Império e desdobramento de novos atores – podem produzir-se múltiplos confrontos. Para previr ou regular os mesmos será necessário que as novas potências emergentes tenham mais capacidade de decisão no cenário e nos organismos internacionais. Pelo qual será preciso, nos próximos tempos, a modificação e adequação dos novos organismos e foros às novas realidades. Então o mundo deixara de ser unipolar e as tomadas de decisões dependeram dum mais amplo consenso.
Por outra banda os novos mercados mais pujantes receberão com mais fluência novas entradas de capital, isto fortalecera os seus mercados bolsistas frente à Wall Street e a City londrina. Na maioria destes países com mercados ainda virgens, o Estado tem um peso mais destacado na economia, detendo o controlo dos sectores estratégicos como os hidrocarbonetos e as novas energias.
Para evitar repetir anteriores erros de certeza que o Estado continuará a funcionar, nestas novas potências, como regulador, redistribuindo as rendas e aplicando uma política fiscal que grave percentualmente o capital de ganho obtido pelas grandes companhias, ou bem aceite parecerias em áreas tecnológicas onde ainda precise ajuda para o seu desenvolvimento e capacitação.
Ainda que pareçam mentira estas novas medias podem trazer consigo o fim do modelo económico em que hoje assenta o mundo, e tem provocado tanto a hegemonia total como o derroca dos EUA.