quinta-feira, 29 de outubro de 2009

?


Levantam as folhas outono
invernos na pele descida

cometem os homens covardes
maiores medos na fúria contra os vencidos.

Na dor dos humildes
uma estação adianta suas chuvas,
ao igual que o experimentado alça
muros de rancor onde o amor não consegue

não consegue, não !

e é úmido o paladar
na lama fresca da avenida

como tórrida a mulher
que vende suores nas camas rendidas
ao vapor do nosso corpo.

Ao tempo que quantos em quartos também se alçam
contra os homens atraso, afeitos ao descuido,
com oportunidades que evocam voar de pássaros fogo artifício

alguma vez renunciam
e chamam-se gozosos

outras não!
Não conseguem, não.

Porque possível a lua nem sempre
agora que a soma duma aurora provoca delírio
na voz que te procura a distancia

E mesmo assim não se consegue,
não se consegue não
mudar de rumo num ultimo dia.
Artur Alonso

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Marraquexe


Se quiseres ver
Tens de ir a Marraquexe

Há um contador de fabulas
que levanta pólen
formando romeiras,
a cada pancada de seu pé direito

e serpenteia cada braço
num rito consciente,
enquanto escuro o ventre palpita
retumbar ecoando sonhos
de tribos nômades perdidas,
presságios antigos
ainda não satisfeitos

a sua historia atendem
entusiastas as crianças,
os homem supõem visitar alem o adentro
e as mulheres, por um segundo, evadem
libertadas de um severo olhar
as túnica gastas no vento


Se em verdade
abres os olhos
poda ser que penetres
por fim em Marraquexe

onde a luz solar flutua areia âmbar
o tempo é teu inconsciente
e aquele supor, agora faz parte
de um processo, pesado descanso

Na praça do enforcado estatuas vagueiam
e à cerimônia antiga, cumprido ritual,
as casas fazem círculos de adobe trás a lua

Senão foste flauta de alento
perde-te hás
profundo no seu cetro
e já não poderás divisar sinais nas ringleiras
de palmeiras em sombra fresca

Não te será oferecida bem-vinda
nem avançar poderás
por estas portas sempre abertas

Para entrar em Marraquexe
é preciso deitar fora
toda carga que nos pese.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

filhos do Deus da Chuva


Decide então a chuva chamar-te.
Vou de carro, disseram que a chuva tem essa força. Decide chamar-te como quem visita um velho amigo, e te sussurra ao ouvido palavras que não podes estimular e que nem sequer te pertencem.
A chuva te penetra do tutano a voz. Invade-te a alma e conquista humidades que já contigo andavam antes da nascença, como líquidos a te relembrar que todo viera da água em semente.
Porque a chuva como tu provem do principio dos tempos.

Decide então a chuva permear-te.
- esqueces-te os velhos tempos? – Eras tu no café às onze horas a dizer-me suavemente que o mar estava longe, que eco da vinda nas ondas fora um perfume para ti, e eu de todo perdido em aquele mundo longínquo e impreciso.

- Esqueci os velhos tempos. Sim, esqueci. Por que às vezes é necessário dar um fim a nenhum começo. E neste filme os últimos sucessos ainda falavam a modo de ciúmes de ti, dos teus cabelos e os teus olhos, nos que agora eu só lembro o perfumo de outro sol.

Decide ela, a chuva, tu não. Tu não reparas porque achas como homem tudo esta atrasado, na ponta do pé, onde supões tens dominós, ainda que a terra que pisas nunca fora tua vizinha, nem tua amada, nem sequer tua.
E por cima sem acordar, compões falsos conceitos, porque há tanto e tanto te esqueces da força que envolve a continua corrente, que se chama num principio para os iniciados, mistério e para nós regresso.
Nem conta te das que é mãe, mulher, terra quem protege tuas pegadas acima do seu ventre.
Simplesmente a Mãe Terra e tu edificas nela para agradar os bolsos de aqueles que mandam futuros construir por baixo, bem por baixo, da sua cobiça. Mas no ventre da mãe prenhe desistes suster o alimento. Ela chora e tu sem reparar, pensas apenas na chuva e tal vez nos anos perdidos, que sempre se contam sem ter em conta que o faz.

A chuva decide. Decide sim por que tem o poder de despertar os processos.
- Vem à beira mar, em inverno a beira mar fica para nós como única costa.
- Sei bem, porque esta desabitada.
E gostávamos assim passear, tu do meu braço, enfiando memórias de alguém que fica na distancia estonteando com que nunca volta.

E uma pequena aldeia, ilhada da presa de viver, em concerto com as normas de outrem, se inicia na própria identidade. E tu gostas e ao mesmo tempo que estranhas antigas luzes: A distancia junto ao mar.
O mar que tem esse magnetismo que apanha os corpos, mas não decide simplesmente se conforma com o tempo num lugar parar, para determinar o rumo das horas. Qual suas horas constroem relógios em cada cérebro de areia.

- Ola,
chegas-te a dizer, porque duas pessoas que compartilham uma mesma praia, a tarde no cair, deveriam ao menos compartilhar um percentagem das falas lindas.

- Ola,
chegas-te a dizer muito tempo depois, a cada tarde, como o inicio da conversa tivesse a força ser demorado por longas épocas de silêncios.
Soube depois teu nome Maria, soube também dum destino em fugida. Teu marido a 3 centos de quilômetros, eu aqui tão a perto, e uma casa vazia, os lençóis a certo ardendo ... e os desejos solitários que abrem noites a ternura...

Se iniciam com chuva bem sei, como ambos iniciamos molhados os corpos o sabor desconhecido das próprias carnes nossas.
Artur Alonso

terça-feira, 20 de outubro de 2009

FIM DO PODER AMERICANO.


Por Artur Alonso Novelhe


Depois da crise financeira de Setembro de 2009, nada no mundo voltará ser o mesmo. A crise foi criada devido às baixas taxas de juro que forneceram acesso a dinheiro rápido e fácil. Esta multiplicação dos ativos monetários estava sustentada em empréstimos bancários de alto risco sobre hipotecas, na maior parte dos casos pertencentes a famílias americanas de classe media, com rendimentos relativamente baixos. Ao aumentar o crédito hipotecário aumentou a procura no sector imobiliário, que a sua vez impulsionou a demanda de títulos, formados por pacotes de hipoteca, o que aumentou o movimento especulativo a grande escala no mercado dos famosos “hegde funds”, dos quais os grandes bancos norte-americanos eram os maiores possuidores. Todos sabem como este castelo de naipes desabou.


O plano governamental de apoio e resgate ao sistema financeiro tentou evitar o colapso do mesmo, despejando milhares de milhões de dólares, do contribuinte americano para o sector bancário para salvá-lo da falência.A sua vez este estimulo foi aproveitado pelas grandes instituições da banca para a aquisição de bancos menores, ao tempo que se despejava no mercado das ações milhões e milhões de dólares, que foram acrescentados à balança da Reserva Federal, produzindo um novo inicio de outra bolha especulativa, que mais cedo ou tarde acarretará graves problemas.Para além disto, o inchaço orçamental do sector do complexo industrial militar, efetuado uma década atrás, e continuado até o momento, ademais das sucessivas guerras e desdobramento de tropas nas áreas em conflito, levaram ao governo dos EUA a aumentar exponencialmente a sua divida interna ate limites muito perigosos.


Até o momento esta dívida era reciclada com a compra de Títulos do Tesouro Americano por parte de terceiras potências, nomeadamente o Japão, União Europeia e Emiratos Árabes, contribuindo acertadamente para a estabilização e conservação do dólar como divisa de referencia global. Desde há já alguns anos a China e o Brasil, segundo e quinto credor respectivamente, se acrescentaram a este grupo.Eis o porquê de todo o sistema económico global americano assentar na fortaleza do dólar.Mas agora esta situação esta cada vez mais a ser posta em causa.


O convencimento das companhias privadas de que o domínio dólar esta a chegar ao seu fim é verificável pela cada vez mais avultada quantidade de outras divisas que estão a ser colocadas nos seus fundos de reserva, e em simultâneo que se desprendem cada dia, com mais fluência, dos montes de dólares que têm em excesso. Com o mercado interno enfraquecido pelo endividamento da classe media americana, assim como pela aniquilação de emprego e pela substituição de trabalhado medianamente remunerado, por mão de obra imigrada com salários mais baixos, o único que realmente resta ao Império americano para manter a sua hegemonia económica é o controlo do dinâmico sector financeiro internacional, dado que até nos últimos anos o deslocamento das manufaturas tem iniciado também a deslocação de empregos de alto valor acrescentado, como podem ser as engenharias em software ou a tecnologia da informação.


Daí que ao acabar o recurso a mais empréstimos, o consumo interior americano tenha poucas possibilidades de estabilizar-se e muito menos de crescer. Se as famílias americanas não podem comprar ao ritmo de antes, o sector financeiro não poderá suster a especulação, nem o governo poderá seguir endividando-se ao ritmo que precisaria para manter a sua superioridade universal. Pela contra novos mercados ficaram beneficiados do enfraquecimento do mercado norte americano. Mas para que isto suceda sem amargas rupturas no sistema do capital, é preciso evitar uma depressão intensa de grande escala que expluda no, ainda que cansado, vigente pulmão das finanças internacionais. Por isso acreditamos que o capital mundial, inteligentemente vai tentar prolongar a depressão, enquanto devagar se vão deslocando os pólos de domínio hegemónico do sistema mundial.


O défice orçamental e comercial dos EUA está a forçar a queda do dólar, portanto também o poder do Império universal. Assistiremos a um recolher táctico de muitas áreas do planeta; a perda de influencia sobre estas regiões animara a novas potências a preencher esses ocos e também a retirar das suas fronteiras imediatas a presença americana. Nas zonas de fricção – entre recuos do Império e desdobramento de novos atores – podem produzir-se múltiplos confrontos. Para previr ou regular os mesmos será necessário que as novas potências emergentes tenham mais capacidade de decisão no cenário e nos organismos internacionais. Pelo qual será preciso, nos próximos tempos, a modificação e adequação dos novos organismos e foros às novas realidades. Então o mundo deixara de ser unipolar e as tomadas de decisões dependeram dum mais amplo consenso.


Por outra banda os novos mercados mais pujantes receberão com mais fluência novas entradas de capital, isto fortalecera os seus mercados bolsistas frente à Wall Street e a City londrina. Na maioria destes países com mercados ainda virgens, o Estado tem um peso mais destacado na economia, detendo o controlo dos sectores estratégicos como os hidrocarbonetos e as novas energias.

Para evitar repetir anteriores erros de certeza que o Estado continuará a funcionar, nestas novas potências, como regulador, redistribuindo as rendas e aplicando uma política fiscal que grave percentualmente o capital de ganho obtido pelas grandes companhias, ou bem aceite parecerias em áreas tecnológicas onde ainda precise ajuda para o seu desenvolvimento e capacitação.


Ainda que pareçam mentira estas novas medias podem trazer consigo o fim do modelo económico em que hoje assenta o mundo, e tem provocado tanto a hegemonia total como o derroca dos EUA.

sábado, 17 de outubro de 2009

18/10/2009 GALEGO SEMPRE MAIS




Tivemos um tempo para alçar a nossa língua,
e esse tempo foi o da amarga derrota.
Tivemos um imenso, escuro tempo no caminho
para ocultar a nossas raízes dos seres que no-las cortam,
e esse tempo não foi perdido, criação de resistência nas sombras.
Tivemos um tempo pequeno para ser, dizer por nos mesmos
e comungar com um mesmo universo

dentro do mesmo oceano oposto
e esse tempo sim foi perdido, por viver no antigo sonho.
Temos um tempo agora para dizer não
para afirmar alto e claro quem somos
e mostrar ao mundo os nossos corações.
Ainda vamos ter uma oportunidade de abrir-nos a luz
E depois se fecharão, sem ranger, todas as portas.
Teremos, ainda assim, mais um tempo para concretizar
E de agora em adiante só de nós dependera
saber si queremos seguir tendo o tempo conosco..





Poema de Artur Alonso

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

OS DEUSES


Os deuses não falam com pedras e flores.

Nós comemos carnes vermelhas
enquanto a rapariga de fome morre

e o mármore é praça,
o centro um círculo para comemorar
as velhas cerimônias.
Em seu inicio fora pedra filosofal.

Comemos carne
para que o ventre das aias
não fique sem alimento
dado os medíocres serem sempre insaciáveis

e os deveis, por descuido, a miúdo ausentes.


Os deuses nos falam no Livro das Homenagens

Enquanto o sol avança pelo meio das pedras altas
E ruídos ficam os braços com frio
de aqueles que arriscaram conquistar
um tumulo no mármore, dormidos

e precisamos todavia dum refugio certo ao alcance,
na penúltima coluna, no penúltimo lugar sacro,
por onde a luz no solstício penetra
desde as primeiras madrugadas

daí que quando precisemos certezas
inventemos, oculto, um ninho sem ramos

mas os Deuses não precisam de cores imaginarias
nem reparam no sentido, das ramas entrelaçadas
sobre os peitos das musas
que amaram a espécie humana


Nós bebemos seu cálice
sonhamos seu sonho realizarem
e depois ao despertar tão só resta do mesmo o orvalho
Eles não apaziguam nossa dor
nem precisam sacrifícios ordinários,
no altar o cordeiro e na vida a reta palavra.

Pode a escolha errar, mas nunca é inevitável,
a pesar de no seu nome se acumulem os cadáveres
Artur Alonso.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

ALBERTE MOMÁN NOVAL Compostela Galiza


I

Levo comigo
o determinismo dum souvenir

de leite materno
um país adolescente

aguardando pola minha madurez

e uma moreia de anedotas sobre tempos vividos

fora das fronteiras da história


II

sou da terrana

na que caem as minhas páginas

pois mostro ufano o seu estigma


III

possuo como única arma

a memória insuficiente

a confiança nos aços

do ar que me alimenta

e a firmeza da minha vontade liberada

Mmm



CARLOS QUIROGA Santiago de Compostela Galiza


Oxalá pudesse ser sempreolímpico

E ter segredos do tamanho de um planeta

como agora sinto.

Oxalá fosse capaz de tomar as armas

como só é possível no terceiro mundo.

Matar por comida, bebida,

matar por amor.

Oxalá não fosse tão carente neste

embrulho de supercivilizado quevisto.

Amansando os instintos.

Acatando estratégias.

Tolerando os direitos dos outros.

Tanta democracia. Tanta tristeza.

Oxalá o sexo fosse o pão e o riso a moeda.

Oxalá o sol brilhasse sempre

como brilha nos desertos.

E me queimasse a pele e me bronzeasse

os sentidos.

Oxalá pudesse ser sempre olímpico.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Poema De Lewis Carol


LEWIS CARROL

Então toda a nossa Vida é apenas um sonho

Visto difusamente na cintilação dourada

Através da corrente irresistível da escuridão do Tempo?


Debruçada para a Terra com angústia amarga,

Ou rindo-se de um espetáculo mais raro,

A flutuar de um lado para o outro.


Passamos à pressa o pequeno Dia do Homem,

E, do seu alegre meio-dia, não enviamos

Um olhar ao encontro do Fim silencioso.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

PERTENÇA


Ele era de um país que não tinha nome.
Ela estava na idade de mudar a rota.

Diz que foi o vento, o vento que tem o poder de converter as rochas em cinza.
E talvez nem muito menos fora assim, porque ele vinha dum lugar onde sempre se escondem os sonhos debaixo da areia (para cegar-lhes as estrelas).
E ela estava na idade de mudar as cores: no arco da velha, pôr telha no prado, ou verde que sobra debaixo da árvore... E ele tinha de mudar: suas formas.

Havia uma lagoa, sempre em qualquer lugar há uma lagoa (adivinha-se logo), mas esta era feita de lágrimas não vertidas sobre a válvula dos olhos.
E como ela sentia necessidade de mudar, e como ele viera dum país onde nunca falam as historias de outros tempos... seus caminhos tiveram (por força) de se cruzaram, como neste casual, que a ninguém agora interessa. Porque sempre numa ou outra vida hão de cruzar-se caminhos à roda.
E a ela tocou-lhe este, e a ele ficou-lhe tão perto... E como ele provinha dum país onde o nome sempre se esquece, e como nunca reparara no significado da nascença, tampouco ia agora “trigonometrar” sobre o estado propicio das acácias, ou contemplar alheio o medrar das raízes como berço para a ambos aninhar-se; dai que ele não acertara fácil aonde se dirigem as pegadas dos homens, que como ele, andam pelo mundo a volta da sobrevivência.
De modo que trocou seu pouco animado sentido, por uma senda que nunca chega ao horizonte.


Fragmento do relato Pertença de Artur Alonso

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Espectro de amor


Tantas vezes pensei, para ti,
a harmonia da chuva, tal vez, no teu cabelo,
na manha mais úmida, em que aquele raio de vida:
verdes as pupilas sobre montanhas verdes, refletiu
atrás das nossas costas,
em aquele dia que te recitei
por vez primeira teu primeiro poema.

E nós voando por riba,
olhando profundo sem saber
que aquele poema construído para ti, feito
por ti em verdade, esse nunca
tal vez jamais, outra vez, eu escreveria

Quantas vezes eu pensei nos seres
que habitam dentro de nós,
na sabedoria que dos mortos aprendi,
simplesmente,
para entregar-ta.

E tu a rejeitar-la como um costume,
porque aprendes-te na adolescência
que ninguém entrega nenhum embrulho de ouro
em um feitiço incoerente, preso do amor

Quantas,
tantas vezes eu à noite
quando tento afiançar-me no espelho
(não derrubar-me, seguir na luta),
Quantas
ainda pressinto, como se fora ser certo,
como se fosse algum dia acontecer,
teus braços sobre os meus ombros
para nunca dos meus liberados se afastar,
por causa da tua paixão

Com uma mistura de digna raiva
e um sorriso para conter
tentando desenhar, de memória,
teu rosto (suevo) de rainha

quantas vezes sem palavras
de novo sonharei, teus lábios a me dizer,
por fim: também eu te amo!

A decadência


A dia de hoje esta tudo por disputar: de um lado o velho, seu cão aguardando na memória do que tem sido um eterno tempo e agora se foi, como a chuva que parte com a estação da primavera. Do outro os donos da inconsciência, os amos do capital à espera dum rebento pronto a segurar um continuo, que deveria não ter impasse no tempo.
E nem sempre acontece assim.
De um lado pode ate o velho renascer no legado de aqueles que escutam a distancia o ecoar dos ventos, e sabem que os espíritos dos antigos hão voltar a terra que lhe foi roubada, há muitos séculos, pela sede de sangue do Imperador . Não virão como antanho, mas sim como renovadas formas, rostos ainda por definir na essência das raízes que sempre prevalecem.
Quanto aos donos do capital sucede muito a miúdo seus filhos não chegar a usufruir dum tão basto patrimônio, ficam vencidos, rendidos e exaustos ante a fúria de outros mais justos, injustos ou bem retraídos, na luta pela sobreposição, dos males que todos nos afetam.

A dia de hoje tudo por decidir: um homem que passeia na rua mais deserta e nunca encontra o farol que Alexandre deitou num lugar oculto da Ásia, que é imensa e bela e nos chama, umas vezes para a morte outras tantas para a vida.
Do outro lado, em Alexandria, numa biblioteca arder, está o segredo do olho que tudo ausculta (acima da pirâmide). E um repara quanto sangue derramado, quanto esforço sentenciado pela simples ânsia de viver uma aventura falida, que em sonhos foi alçada pelos amantes do desespero.

Estou convosco nisto, porque vivo ao vosso lado, mas temer ao homem que precisa da vossa aprovação. Como nada aguardar da mulher que se projeta na sombra dele. Mesmo de aqueles que estão à espera eterna da ressurreição, porque eles são os filhos do livro e sempre vêem carregados epitáfios, medo e apolítica visão. Bem sabeis, sabeis bem que eles venderam vossa carne e a sangue do vosso sangue ao filho do pai, que foi de novo inicio deus e cordeiro.

A dia de hoje tudo esta a mudar, pois o império se despedaça. E é bom que assim aconteça, pois o cancro começa a corroer os últimos resquícios vitais dum sistema que já não traslada esperança de salvação, as massas abduzidas de espíritos muito fracos, como de doentes cérebros entregues estão, os elementos da alma a deformação da própria primeira vida, que deu a essência aos primitivos homens.

Eles hão de perceber e no ultimo instante, tentados estarão de arrastar-nos a todos no seu ultimo lamento, concentrados na avareza de ver seu umbigo decaindo: sonharam em sua morte engendrar todas as mortes.
Devereis ser fortes, pois eles têm desejos à venda ante vossos rostos, e sabores de seus odores que nada trazem a entender-se com as flores do paraíso, e tomarão o caminho da indecência antes vossas frias caveiras.
Nem sempre eles vão vencer.
Seu tempo, noutro tempo foi, embora que persistam, ate o ultimo suspiro em ser imortalizados.


Artur Alonso

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Ruas desertas.


O mesmo som a se repetir nas paredes que nunca terão historia.
Dentro encontra-se um oco, mas ele mesmo, em um momento alcança.
Chegou hoje, como podia ter chegado na hora em que ninguém escuta os bêbados
ou afogados.

O mesmo som a repetir-se no adro do palácio,
nas campas onde os túmulos não são mortuários, no entanto sim fechados, e
no beco mais frio das ruas que foram abandonadas
pelo amor dos filhos mais novos,
que jogam seus instintos na corrida dum vento que (dele, o pai) os distancie

é o mesmo som a repetir-se por riba das montras, que abrigaram
no médio dia as praças;
acima das cúpulas onde as pombas ninhos nunca fazem
e preferem emigrar, por exemplo a Praga

diz que ele teria de ir com elas a qualquer parte do mundo
onde o mundo fizera dele parte.
Mas ele chega, no dia mais inoportuno, na noite mais afogada
para adormecer na terra de onde partiram seus âmagos,
e em silencio, como o colono roubado:
como os pulsos dos exilados.

Derrota trás derrota, o mesmo som lhe aguarda.
Ninguém aguarda por ele no cais,
ninguém pergunta se passa.
No ramo canta o galo: dizem que começa a madrugada...

Artur Alonso

sexta-feira, 14 de agosto de 2009


Levantam as folhas outono
invernos na pele descida

cometem os homens covarde
maiores medos na fúria contra os vencidos.

Na dor dos humildes
uma estação adiante suas chuvas,
ao igual que o experimentado alça
muros de rancor onde o amor não consegue

não consegue, não !

e é úmido o paladar
na lama fresca da avenida

como tórrida a mulher
que vende suores nas camas rendidas
ao vapor do nosso corpo.

Ao tempo que quantos em quartos também se alçam
os homens atraso, afeitos ao descuido,
com oportunidades que evocam voar de pássaros fogo artifício

alguma vez renunciam
e chamam-se gozosos

outras não!
Não conseguem, não.

Porque possível a lua nem sempre
agora que a soma duma aurora provoca delírio
na voz que procura distancia

E mesmo assim não se consegue,
não se consegue não
mudar de rumo um ultimo dia.
Artur Alonso.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Mulheres Sozinhas


Escuto-as de certo, na hora zero, vão chorar todas juntas a falta da sua primavera.
Eu simplesmente escuto e são outro silencio no lenço que elas guardam,
atrás do punho dorido, onde as veias irrigam ao sangue apreços e faltas.
Falsos são seus sonhos, falsos foram seus homens,
mas elas ainda conseguiram tirar os seus filhos, empurrando cara adiante.
Às vezes algum morre rebentando no chão, e vermes são as pernas comidas pela fome,
às vezes um outro chega a governar acima dum pequeno um mapa...
E então terríveis comandam desejos que a falta de pai trasbordou fora de ânsias.
As arcas vivem cheias de penas de cisne, e feios conselhos;
matam pelo prazer de matar, ou morrem estúpidos por causa de arrebatar-lhes
as mães seus belos pecados.

Escuto-as no preto que vestem suas saias,
nos lutos adentro que adornam gastadas, as toucas engravidas.
Me olham bem sei, e passam de largo.
Também pensam elas serei eu soldado
e morrerei na mesma guerra aonde os filhos emigraram
em procura do beco vazio, onde elas foram obstrazadas.


de Artur Alonso.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

11.- CORRIGENDA Fernando Sylvan (Timor Leste)

Nenhum povo é grande por ter apenas fastos a contar,

Mas pelas liberdades que soube viver
e pelo amor que tiver para dar.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Os Infelizes


No entanto completas-te a rota, comigo.
- Vim de muito longe e agora não me arrependo. Mas esta não era a vida que eu requeria...para ser feliz.
- Nunca é a vida que nos queremos, desculpe... A melhor porque nunca será a vida que tanto imagináramos, ou no fim de contas, sonhamos ter.

De quando em quando se é feliz.
- Uma vez ate conta me dei de que a mil milhões por decênio, a humanidade não pode sobreviver sem recursos, recursos dilapidados que agora terá de inventar... Os recursos têm um limite, os planetas sempre se esgotam.
- Te preocupa a explosão demográfica
- Me preocupa diluir-me entre uma massa tão imensa.
- Saber que a paixão não se come. Que a ignorância devora. O cúmplice tem certo poder e, os que mandam sustentam sua miséria, sabemos todos nós.

Se é feliz, de alguma forma; se procura ser feliz de alguma forma e de quando em quando acreditamos teve sentido construirmos por dentro, o espírito que ficou nu diante do estorvo.
Não reparamos, nunca reparamos no efêmero e sem sentido. No transcendente nunca estivemos, no transcendente nunca os supostos logros, nem sequer a historia das civilizações tem um lugar num tão basto conceito, difícil de definir e em espaços muitos confusos.
Agora talvez deixemos de existir, e alem de nós, a quem demo lhe importa. Para que, para quem tem importância os nossos jogos, os nossos técnicos, científicos, aritméticos e arquitetônicos logros. Para quem, para que foram erguidos, em sonhos tão imprudentes?

E a pesar completas a rota comigo. Não tenho muito para te dizer, tampouco uma agradável desculpa. Acontecem cousas, as cousas que tem de acontecer, como imprevisíveis a previdência, como insensíveis aos remorsos e, no entanto nunca fora do controlo, de estas e outras mesmas. Acontecem essas cousas e tu comigo...
Fragmento Do relato do mesmo nome de Artur Alonso

terça-feira, 30 de junho de 2009

O Que Eu Sou


O que eu sou
Eu sou o que sinto

mas o que sinto
não me pertence

só me faz ser

me possui...


Dentro de mim o Universo


Mas nada é meu...

nem as palavras que te escrevo

para te não dizer que te amo


Poema de Concha Rousia.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

मर्रकुएक्से Marraquexe

Se quiseres ver
Tens de ir a Marraquexe

Há um contador de fabulas
que levanta pólen
formando romeiras,
a cada pancada de seu pé direito

e serpenteia cada braço
num rito consciente,
enquanto escuro o ventre palpita
retumbar ecoando sonhos
de tribos nômades perdidas,
presságios antigos
ainda não satisfeitos

a sua historia atendem
entusiastas as crianças,
os homem supõem visitar alem o adentro
e as mulheres, por um segundo, evadem
libertadas de um severo olhar
as túnica gastas no vento


Se em verdade
abres os olhos
poda ser que penetres
por fim em Marraquexe

onda a luz solar flutua areia âmbar
o tempo é teu inconsciente
e aquele supor, agora faz parte
de um processo, pesado descanso

Na praça do enforcado estatuas vagueiam
e à cerimônia antiga, cumprido ritual,
as casas fazem círculos de adobe trás a lua

Senão foste flauta de alento
perde-te hás
profundo no seu cetro
e já não poderás divisar sinais nas ringleiras
de palmeiras em sombra fresca

Não te será oferecida bem-vinda
nem avançar poderás
por estas portas sempre abertas

Para entrar em Marraquexe
é preciso deitar fora
toda carga que nos pese।
Poema de Artur Alonso पोएम दे अर्तुर अलोंसो

sexta-feira, 26 de junho de 2009

A mesma Pele

"Depois de mais uns instantes de silêncio, murmurou que eu era uma pessoa estranha, que gostava de mim decerto por isso mesmo, mas que um dia, pelos mesmos motivos, era capaz de passar aos sentimentos contrários। Como me calasse, por não ter nada a acrescentar, tomou-me o braço, a sorrir, e declarou que queria casar comigo."
Fragmento do livro: “O Estrangeiro” de Albert Camus।

.. as cousas também podem acontecer assim, ela chega, se senta, desfruta simplesmente do mirar. Não gosta muito de ti, mas tu estas como ela contigo à vontade. Seguem-se um ou dois dias. Risos no mesmo banho, os copos compartilhados a escova dos dentes, não. Ela comprova que, para ambos, escolhes-te bem o lado da cama, que o espelho aproxima dous rostos, que os rostos insinuam felicidade e o brilho dos olhos sempre penetrando na alma dos outros. Uma semana, um mês por ser mês. Ao final se fazem anos. Ela nunca disse: queres casar comigo. E tu nunca rompeste com promessas estúpidas o desfrute do silencio. Era aquele o momento, só que se reteve. E em ele ainda podes vir, ou resgatá-lo quando a rotina irrompa com a fúria que desgasta o passado...
Artur Alonso.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Mentes Abertas


“Um não pode suportar demasiada realidade”
(Carl Jung)
“Estamos a ponto de iniciar uma viagem desagradável através dum território sem cartografar”
(James Howard Kunstter no livro: “A longa Emergência”)
A necessidade nos faz acordar. Cruzamos vales, atravessamos rios, estradas que levam a nenhuma parte. Encostas trancadas de pedras: pedras na dor, pedras no sapato: na alma feridas abertas que também com pedras se consertam, quando precisa o coração de viver na rudeza. As vezes pó no interior dos olhos e no espírito acerado uma cantiga para cruzar fronteiras imaginadas na noite, que se ergueram sobre nós como os fantasmas nos sonhos. Mas conseguir também se consegue quando a necessidade precisa salvar da queima o livro das origens. Acarinhar a esperança de aqueles que estão por vir, e chegaram sem saber como este mundo foi construído (destruído). Precisarão eles da primeira palavra no primeiro ouvido. É isso mesmo que nós resguardamos da queima, do trovão, da umidade na chuva, das almas negras que em sombra adensam o mundo, para ficar a esperar, para lutar pelo impossível.
अर्तुर अलोंसो Artur Alonso

terça-feira, 23 de junho de 2009

RELEMBRANDO


Estive esperando por ti,
e como de esse dia nunca chegas:

um caminho ao meio
numa rua deserta, dous petiscos sobre a mesa

estive a aguardar por ti

o jornal enrugado
para o balcão adornar um copo de cerveja
e os pombos, como sempre,
fartos nestas ruas de debicar falsos alimentos

não tem remédio, me temo não tem remédio
como a camisa curta, as calças raiadas
gastas de afeto, e a barba que cresce
não tenho outro remédio que barbear
primeiro o pensamento, para embora esquecer-te

e aquele pauzinho com que jogávamos a cegas
linhas curvas, linhas retas (diz que um coração)
não tem outro remédio que ficar estilhaços
entre a lama mais fresca

dado que eu
estivem a esperar de novo por ti
com a esperança de que estes pássaros
de agora ao inverno regressem

e foi, por certo, muito lenta
este ano a migração,
dado terem pálpebras cansas ou isso assemelham

e tu, que em realidade eras a que tinhas de vir
este outono e outro e por vir
que tampouco será certo

declinas carreiros que juntem, longe mim
também deve haver cômodas mesas,
jantares deliciados e mais algo de aquilo que
tu gostas-te sempre

ou deves a melhor ter-te extraviado
como água quando inunda os regatos de afeto,

como tempo que cobre de peles a cortiça
no coração que não seja gotas sobras de amaneiro,
como quando em moçõs eu colei acima
da tua cabeça, suas folhas moles, como símbolo supremo
de um deus grego de cujo nome agora não me lembro

como desde há mais um mês tampouco me lembro dos
teus beiços.
अर्तुर अलोंसो Artur Alonso

segunda-feira, 22 de junho de 2009

O VALEIRO


“quem apenas gosta da felicidade
sofrerá com a tristeza,
que aceita com tranqüilidade
a inevitabilidade da morte
sabe tirar melhor proveito da vida”
(Chuang Tse)

Não aceitam a morte, porque para ela esta sociedade não tem tempo. Não aceitam a tristeza porque a morte é o vazio, e a tristeza umedece as paredes que na alma fechamos para evitar que o vazio nos penetre, e com ele algo da morte.
Por desgraça, para esta sociedade, eles desconhecem que em realidade o vazio é a vital entrega sem medida, sem procurar ganhos ou perdas, sem disputa. Única e real tranqüilidade, principio da vida recolhido na aceitação de ser um mesmo, dentro da nossa própria natureza.
E isso mesmo é um grande problema, pois a liberdade cria homens livres, e o poder precisa homens, mulheres sumidas na sua ignorância, que se sabiam escravas, para eles poder ter não só as suas mentes senão também entregue e adormecia a sua alma...

Fragmento de "Aberto ao Meu Mundo" de Artur Alonso

Na aldeia pobre de homens, pobre de havença, pobre de terras de proveito, pobre de ambições e de esperanças, vivem apenas mulheres em prematuro agotamento, mal criando os filhos, mal entendo os velhos, mal semeando e recolhendo nas leiras reduzidas algumas patacas, algumas favas, algumas verças para ir mal comendo os dias do ano, remendando farrapos para mal vestir.
Ano trás ano decorre a mesma miséria, na mesma rotina, ma mesma ignorância e, a mais pior, na mesma resignação e conformidade, sem protesta nem revolta. Assim viveram as mães, as avós, assim viverão as filhas a menos que um imprevisto ponha o mundo patas arriba. Mulheres estragadas pelo destempero e os trabalhos rudes da terra, na corte, na cozinha, no rio. Mas pensam que não é outro o jeito da vida e há-a que levar como calhar, que tratar de emendá-la é tarefa demasiada para pobres mulheres sem luzes de ração, nem vagar que se diga para bem se decatar da ruindade da própria sorte. Até para isso, para ver-se desventurado é necessário ter um tempo de ócio e unicamente os ociosos estão em condições de armar a revolta.

Do Livro "A vida escura" do Grande Dramaturgo galego Jenaro Marinhas del Valle

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Bucólico


seria muito pedir ser em ti o ultimo

com tantas pedras a cair
tantos sapatos nos caminhos
que se deitam

e a morte que não recupera razoes
pelos séculos dos séculos

seria muito pedir uma tarde
só para mim
na que estivesses atenta

ao boiar do rio no berço
de teu ventre,
ao nadar da folha
na lagrima da tua pupila cheia
com esmeraldas frescas

e ser feliz como algo simples
tal a suor na humanidade
da sombra dum salgueiro
triste

amor
contra caminhos ainda por descobrir,
feitos pela lama, o pó, o pé que pisa
ruídas cerimônias invisíveis

seria muito pedir
ganhar, contigo, um dia ao impossível ...


Artur Alonso

quarta-feira, 17 de junho de 2009

POESIA SUFI


Meu coração esta aberto a todas as formas:
é uma paragem para as gazelas,
e um claustro para os monges cristãos,
um templo para os ídolos
a Caaba do peregrino,
as Taboas da Tora,
o livro do Alcorão

Professo a religião do amor,
e qualquer direção que avancem seus camelos;
a religião do amor
será minha religião e minha fé.

Poema: Aberto a todas as formas, de Ib´n Arabi.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

FotogramA InternO


Levantam as folhas outono
invernos na pele descida

cometem os homens covarde
maiores medos na fúria contra os vencidos.

Na dor dos humildes
uma estação adiante suas chuvas,
ao igual que o experimentado alça
muros de rancor onde o amor não consegue

não consegue, não !

e é úmido o paladar
na lama fresca da avenida

como tórrida a mulher
que vende suores nas camas rendidas
ao vapor do nosso corpo.

Ao tempo que quantos em quartos também se alçam
os homens atraso, afeitos ao descuido,
com oportunidades que evocam voar de pássaros fogo artifício

alguma vez renunciam
e chamam-se gozosos

outras não!
Não conseguem, não.

Porque possível a lua nem sempre
agora que a soma duma aurora provoca delírio
na voz que procura distancia

E mesmo assim não se consegue,
não se consegue não
mudar de rumo um ultimo dia.
Artur Alonso

Necessaria Identidade


Na Galiza temos, de velho, a experiência (triste) de constatar a ausência, nas nossas aulas, de qualquer referente ao nosso entorno. Isto visto no mais amplo conceito. Quer se refira a historia quer filosofia ou Ciências, o elemento referenciado do mundo em que vivemos esteve sempre ausente do mundo académico.
Para conhecermo-nos como povo tivemos que fazer esforços extra, pois nada referente a nos aparecia nos textos com que se construía a nossa sabedoria académica. Nada nosso de história, nem Ciências da Natureza. Quantos/as galegas/os sabem, pelas aulas, o que é uma bouça, uma chousa, uma branha, ou gândara, uma fervença, um seixo, e as suas implicações ecológicas? Quantas/os aprenderam no colégio algo acerca das características dos materiais geológicos que formam o soalho da nossa terra? Quantas conhecem a algum cientista galega/o.
A educação na Galiza consistiu, de preferência, em desestruturar a nossa vinculação com nós próprios, desvalorizando aquelas das nossas características que valessem para reconhecermo-nos como povo diferenciado. Nos livros de texto de muitas gerações nada acontecia cá. Tudo vinha de fora. Incluso a língua. A nossa não valia, estava desvalorizada. Era uma educação dirigida a criar e cultivar o auto ódio.
Muitos mestres e professoras/es em geral, pretendemos mudar esta ordem. Tentamos que os nossos estudantes adquirissem, não só num bom conhecimento das Ciências ou Letras, mas também um bom conceito de si próprios. E não só: também uma boa opinião e respeito das suas mães e pais e do povo ao que pertencem.
Esse povo, no caso galego, criou uma língua para exprimir as suas mágoas e alegrias, para nomear os fenómenos naturais da sua contorna, para diferenciar cada recanto, aldeia ou pedras do nosso país. Somos o povo dos mil e mil de topónimos. Cada pedaço desta Terra tem nome, o que lhe deram os seus habitantes ao falarem na nossa formosa língua.

Fragmento do artigo: "Opiniões duma Profesora" de Adela Figueroa. postado no Portal Galego da Língua

sexta-feira, 12 de junho de 2009

MIMETISMO


Uma rota incerta. Depois os homens.
E logo a seguir a selva. Mais tarde um rio. Mais adiante como uma espécie de estrada, se fecha, bem sei como nós nos fechamos também nos nossos próprios ângulos.
Ao longo, em redor, uma esbelteza de arvores indefinidos, indefiníveis e em definitiva fora do humano alcance.

Atrás, depois de cruzar os mares, estamos aqueles que a frente nos vemos, sorrimos ao passar, o quanto menos antes nos saudávamos atenciosamente. Não há selva, não temos grandes rios, e nossas rotas padecem, todavia, desde aqui, um augúrio de incerteza.

Estamos. Vivemos como emprestando fadigas ao destino. Desejaram fugir alguns deles, outros só emigraram sem perguntas (com o vazio que veste por dentro as roupas que foram ligeiras), como se alguém se adicara as noites a limpar das ruas sujas todo destino manifesto que enraíze na velha herança, dos que vivem com os olhos abertos . Agora poucos são os que falam a digna língua dos livres alentos, a língua dos nossos avos, dos avos dos nossos avos, que dizem não lhes foi útil para mudar a imposta semente...

por Artur Alonso

Conformidade.


Em poucos minutos terá que enfrentar o ódio dos seus parceiros de trabalho. Odeiam-na ou qualquer sentimento parecido com esse. Acham que os julga e que se sente superior a eles por viajar de comboio e caminhar pela cidade. Tenhem ração. Acha a sua vida mais real, sua escolha mais valente. Pensam que não tem medo e é aí onde se equivocam. Caminha pela cidade sempre alerta. Se alguém se aproxima com a mão no bolso, em sempre a carteira disponível. Sim, tem medo. Mas o temor mias grande, o que lhe causa pânico, é ficar pensando que as cousas são naturais assim. Ter medo das crianças, dos pretos, dos pobres.

Do Livro; "em tránsito" de Raquel Miragaia.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

A falsidade humana


No último dia da duodécima lua
o deus do Lar volta para o Céu
para contar o que viu aqui na terra

Antes de o queimarem e em fumo o tornarem
toda a família lhe dá de comer
para que fique com o ventre farto.

Leitão bem assado, peixe mui gostoso,
bolos aloirados, frutos bem maduros,
o vinho um regalo, não se olha a despesas

O deus do Lar esquece as querelas,
as palavras insolentes, as faltas de todos.
Sobe ao Céu bêbado e satisfeito.

O que é preciso depois á arranjar outro deus.

Do Poema: “O Deus do Lar” de Fang Tcheng Ta

+ Ego


... E agora o meu coraçao é como uma fonte quebrada...
Do poema Hound od Heaven de Francis Thompson

Se me disseras agora que ias chamar, nem sempre se adivinha quando alguém nos chama, diria tal vez: erramos!...Com certeza que erramos, pois no beco da esquina onde jamias vais imaginar a chegada, sonhei contigo sermos livres. Fugir contigo e continuar a nunca vender-lhe outra paz ao mundo.
Sabes dos anos em que os nossos irmãos maiores se drogavam, em que esses egoístas do L.S.D. decidiram deitar filhos, sem a proteção dum alma, sobre o chão onde eles faziam amor vezes mil, nus e a vontade, como exemplo, expressão artística, de abandono do prejuízo, de doenças superadas na gratidão de tudo para todos ser elaborado.
E, no entanto também fracassaram, por falta de organizar uma alternativa sociedade.
Agora tu não viras e também fracassaremos noutro egoísta intento de cambiar, ao menos, no nosso hemisfério patéticas inúteis lembranças.

Do Relato: Santa Bárbara de Artur Alonso

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Novas Gerações


Pelas ruelas não só estão alinhadas as praças irregulares.
Pedro não pertence a elas, nem sabe de cor o amarelo das gaiolas com pássaros encerrados; mas intui que acima da sua cabeça luminárias refletoras o sol imaginam descer ate o centro do nada: de noite um farol, deitado entre sobras; de dia um balcão chorando de insônia as horas repetidas, das montras no passeio.
Não sabe Pedro porque alias só consulta um mapa eletrônico no seu bolso interno, atrás nas suas calças. Vive no telemóvel, nos tênis a vermelho brilhante, no preto do casaco. Mas uns óculos quando sai das aulas, antes de chegar a casa, pretos também e muito bem estilizados.

Fragmento de Enquanto tu dormes de Artur Alonso.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Poesia


Terceiro dia:
ela chega
e com a noite confunde as suas horas

chega pela mesma porta
já sobre passada
onde dormido meu sentimento vaga
à tarde dolorosa
quando a luz retida sobras assomara
na penúltima alma
murcha da floresta

e não quero que a claridade volte,
não quero sua ferida esquecer,
para azeitar, ao fim, que te perdi


do Poema Masoquismo de Artur Alonso

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Identidade dos povos


A já a inegável irrupção do reino galego dos suevos, como primeiro reino independente a se formar na Europa dentro dos limites do império romano, contempla agora essa continuidade de arraigo desde tempos paleolíticos e mesolíticos, ao adaptar, este poder germano, sua divisão geográfica – administrativa a realidade própria de povoamento ancestral herdada pelos galegos.
A Idade Media torna outra dimensão também a luz dos novos documentos e trabalhos; assim as provas achegadas por novas leituras como a do prof. Anselmo Lopez Carreira deitam por terra, os já de por si escassos apoios, que a teoria da “Reconquista” tinha entre a maioria dos especialistas da Europa. E mais a Galiza Medieval é o reino que assume a relevância durante este espaço histórico junto com o Al-Andalus dos Califas Omeyas. Negar esta evidencia é negar as próprias crônicas e documentos andalusis, assim como os do papado, do Império Carolíngio ou mesmo as sagas vikinguesas. A luta da nobreza galega pelo domínio do espaço peninsular se alargaria ate mesmo a época dos Reis Católicos. Em esta estratégia de supremacia atlântica sobre a Ibéria Mediterrânea, e sobre o mais tardio conceito continental Europeu, que vão introduzir os Austrias, Galiza sempre tendeu pontes econômicas e alianças duradouras com os mais poderosos paises atlânticos da época, nomeadamente Inglaterra e Portugal.

Do Artigo: Novo Galeguismo de Artur Alonso

domingo, 7 de junho de 2009

Abrindo a alma


O desejo que surgiu nos homens de alterar a sua própria natureza gerou o caos no mundo
Os homens esforçam-se por entender aquilo que não conhecem
e nenhum se esforça por entender aquilo que já conhece.
Os simples e os sem malicia acabam por se postos de lado
e os enganadores e astuciosos admirados.
A espontaneidade tranqüila da lugar à astúcia,
aos sofismas, ao engano e ao desrespeito
e o mundo fica embrulhado na lógica.
É assim que surge o caos
E o mundo se desvia do seu verdadeiro caminho.

De Chuang Tse (fragmento do poema: Abrindo Cofres)

sábado, 6 de junho de 2009

Galiza.


Tu queres visualizar Galiza no fundo da tua alma. Eu quero Galiza visual no universo humano em pé com outra culturas, sem ocupar outros espaços, sem que outros lhe ocupem o seu. Vos pensais que Galiza nasceu para mártir, porque desconheceis a grandeza da sua historia: Galiza é o berço da céltica identidade, é o caminho de confluência que lutou com cobiça contra o Al-Andalus, foi reino germano onde a Sueva bandeira ondeou e também espaço aberto aos irmãos Lusos, os de longas guedelhas, como maré que comunica com as Atlânticas ilhas. Foi o desespero napoleônico e a legalidade mal entendida.
E agora que quereis que seja? Uma terra que se nega a si mesma, um país que enraíza o auto-oido e se sente débil, cativo, sem préstimo, como avocado a eterna condenação do governo dos medíocres. Queríeis essa Galiza?... Pois então que pouco amais a vossa Terra. Que mau conceito tendes de vos mesmos, que pouco vos amais porque vos podereis ser hoje Espanhóis, amanha Europeios, ontem Império forçado por Roma, mas o que nunca deixareis de ser é Kallaikos.
Amo esta Galiza, como amo todos os povos e paisagens que a minha alma teve o privilegio de percorrer. Amos em pé de igualdade, por que ao igual que Kallaikos todos formamos uma mesma humanidade, um planeta que lateja, morre e agora só terá uma forma de salvar-se: o reconhecimento de todos os povos, de todas as espécies, de todas as diversidades que estão ameaçadas...
Artur Alonso

O conto do conto


Não há mais que um jeito de dizer um conto, enquanto que se diga de outro jeito já será um outro conto. Quando um mesmo conto nos seja referido por diversos narrados receberemo-lo desdobrado em tantos contos diferentes quantos sejam aqueles transmissores, porque os narradores não pode evitar ser uma personagem do conto...
... não é fácil escrever um conto, necessita ser projetado e construído peça a peça e logo ir assentando cada uma no se sitio, se alguma se deslocasse, por ligeiro que fosse o desvio, descentrar-se-ia o centro de gravidade e todo o conto viria abaixo. Novela ou romance admitem vários centros de gravidade...
Também o povo distingue entre o que são contos e o que são estórias, que o conto é todo produto da fantasia, não casa com as ordenanças da vida humana enquanto que a estória precisa assentar em verdade concreta...
Jenaro Marinhas del Valle (A vida Escura)

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Mitos e Lendas


Ainda sobre o rio das nove ondas: Com os anos vimos a lenda do Meço nao poder-se afastar do rito da praia da Lançada, onde as mulheres recebiam no ventre as ondas a trazer-lhes o Carneiro deus dos princípios.
O “Matamo-lo-todas” recebe nova luz, e também pegadas dionisíacas, que aludem só à prática alucinógena das sacerdotisas. Estrabom dize:”Têm por usso tirar uma vez ao ano o teito do santuário e fazê-lo de novo no mesmo dia, antes do sol pôr, com um farde que cada uma carrega. Se alguma lhe cai o fardel, as outras esquartejam-na, e com os anacos giram arredor do santuário gritando ate deixar o transe. Sempre há alguma que cai e deve sofrer suplicio”. O sacrifício anual é o que acompanhava as edificações novas, simbolizada na substituição do teito.
Não sabemos se era o caso de Ogrove, mas um sacrifício humano haveria, e dele conserva memória a lenda.

Prof. Higinio Martins Estêvez, do livro As Tribos Calaicas.

quinta-feira, 4 de junho de 2009


Procurando o caminho a casa.

O silencio chora às noites
Quantas cabeças de sereia tem o palácio?
E no prado os corpos jazem
porque são, habitualmente, desnecessários

e tinha um castinheiro com uma senda para me dar
a fonte do nascente onde cresce o paladar
ate a frescura dum coração todavia incorrupto
tinha-te a ti
e a um passarinho
que matei de sobrepeso

agora entrou o mundo no fundo da nossa alma:
sabe bem tu mãe

compreende ela
que crê conhecer o preço a pagar,
mas o que ela não sabe
e a quem e donde entregar o corpo
Artur Alonso Novelhe

domingo, 31 de maio de 2009


galeguismo do x.21


1.- A Identidade galega é um continuo histórico, que chega ate os nossos dias.
2.- A historia da Galiza é tão rica como a de quais quer povo, e Galiza tem sido em diferentes períodos históricos, referente principal e ator privilegiado no acontecer europeu.
3.- Galiza ficou por desígnio geográfico encravada no setor geo-estratégico do Atlântico, a aliança com mundo atlântico e as ilhas britânicas é um vetor natural de desenrolo
4.-Galiza é matriz do mundo galáico ou luso, pelo que a aliança com o mundo Luso e Portugal forma parte do outro vetor de desenrolo e visibilidade internacional.
5.- Galiza forma parte da Península Ibérica pólo que defesa no marco peninsular duma cultura especificamente atlântica e a luta pela consagração de esse espaço, dentro da península é vital para interesse galego.
6.- Galiza forma parte da Europa, a decadência da Europa não é bom para a Galiza, pelo tanto a peleja por uma Europa mais forte no plano internacional, é fundamental para a realização da Euro-região Galiza Norte de Portugal.
7.- A defesa da coesão e progresso da Euro-região Galiza Norte de Portugal, e a luta por uma Europa unida, onde as velhas nações se diluam para criam um poder único Europeu, deve ser um reto futuro no que Galiza não deve temer apostar. Uma Europa unida no político e divida administrativamente pelas Euro-regiões, com representação ativa numa Câmara Parlamentar especifica, deve ser um projeto a levar em parceira com o resto dos povos da Europa, para num futuro tentar entre todos os cidadãos europeus tirar a União Européia da aparente imobilidade na que agora se encontra.

Tomando em conta estes vetores é preciso completar o nosso espaço identitário com processo lingüístico. A Língua galega, no seu evoluir histórico, sendo também a Galiza a matriz do mundo lusófono, e o berço de donde evoluiu livremente a Galiza Bracarense, o chamado Porto Cale, não pode ficar presa de normativas isolacionistas e deve procurar iniciativas que tendam a inserir a língua no tronco comum luso-galáico, evitando tácticas que a afastem do seu rico marco cultural atlântico, neste preciso e precioso momento em que por todo o globo se estão a dar reações contrarias ao isolamento, que visam unificar as línguas em clave de reintegração, para consolidar espaços geográficos no marco universal.
Pelo que devemos encorajar o movimento galeguista a nível particular, e institucional se for o caso, a implantar para já o Novo Acordo Ortográfico, que esta a ser assinado por todos os países galego falantes ou luso falantes, pois este deve ser um vetor fundamental do novo galeguismo, sem o qual num mundo globalizado as perspectivas duma língua construída a base de provas de laboratório, e isolada do marco de referencia, convivência e enriquecimento mutuo, são escassas ou nulas.

estracto do artigo Novo Galeguismo de Artur Alonso

sábado, 30 de maio de 2009

Escuta amigo

Além da terra, pelo Infinito
Procurei, em vão, o Céu e o Inferno.
Depois uma voz me disse:
Céu e Inferno estão em ti.
Os Rubayat de Omar Khayyam


Escuta amigo, o lado feio, das viagens tristes. Escuta a onda repressiva sob as cabeças dos que faz agora hora e meia, uma dia, tal vez dez minutos ou oito séculos tínhamos recuperada a memória distante da dignidade roubada, que te roubam ainda e tu sem saber, porque és homem, mulher e precisas da paisagem.
Abre a faze dormida do inverno contra a brêtema do sul. Eis que não admira que sejam em nós limite e vidas sobre vida a nossa vida misera, vertida no fundo mar.
Depois que encontraremos?
Encontramos uma caverna, rochas quebras doridas de um céu tão azul... E falésias que acreditam e porem são abismo.
Derrubaram mais tarde o grande muro da vossa indiferença, com a consciência unida de muitas noites imersas nas garras do terror, a loucura, a paixão devoradora de insaciáveis... E agora estamos aqui no lado feio das viagens tristes, onde o comboio aquieta, a nau encalha, às vezes para sempre o vento deixa de latejar no rosto quente da beleza úmida, que é mal tratada pela voz dos donos que nunca tem suficiente. E tudo possuem, salvo o fresco coração, deste povo antigo na imagem da dor, das pedras em circulo e os deuses da salvação...que estão, ouve, acudindo.

estrato do poema Viagens Tristes. Artur Alonso

Um outro mundo é possível?

“O ponto fraco obvio de toda a estrutura política, ideológica e econômica que comanda os Estados Unidos de hoje é que o sistema fracassou claramente em atender às necessidades reais do povo. Ao invés de corrigir estas necessidades prementes na crise, a ênfase dos senhores da economia é salvar o capital privado virtualmente sem qualquer custo. Entre Outubro de 2008 e Janeiro de 2009 o governo proporcionou cerca de 160 mil milhões de dólares em capital, injeções e garantias de divida aos bancos...
O roubo de fundos públicos para salvar capital privado encontra-se agora numa escala jamais vista. Uma classe operaria politizada e organizada capaz de entender e reagir àquele roubo, e optar através disso por reestruturar a sociedade, para atender reais necessidades sociais igualitárias é o que deve ser esperado...
...Estamos num momento diferente no qual as forças sócias podem avançar.”
Jonh Bellamy Foster

sexta-feira, 29 de maio de 2009


Queria dizer-te muitas cousas
queria dizer-te quantas vezes ultimamente
a tua imagem luminosa atravessou
os espaços sombrios da minha alma;
queria dizer-te como é bom
acordar todas as manhas
sabendo que o dia encerra
uma cousa que és tu!

Queria dizer-te tantas cousas
queria falar-te dos momentos que mudam de cor,
da linguagem secreta e silenciosa
de corpos fazendo amor
querida dizer-te que estás sempre
apenas tão longe de mim
como os pensamentos o estão do pensar.

Queria dizer-te que te amo
em muitas línguas estrangeiras,
mas acima de tudo (o que mais difícil)
na nossa própria língua

queria dizer-te muitas cousas:
mas parece que todas elas se perderam
em algures pelo caminho. E agora que aqui estou
não sou capaz de dizer nada a não ser
olá, e sim, quero um café, e
sobre que havemos de falar
antes que a noite se acabe?

(Peter Rocha)

TENTATIVAS DE EXPANSÃO

A consciência comum galego-portuguesa ainda esteve bem desenrolada por todo o século XIII e XIV. Mas uma nobreza galega confrontada em pequenas lutas locais de delimitação territorial do seu poder acende o lume das guerras Irmandinhas e ficará extenuada, posteriormente, para no marco da doma e castração deixar-se agrilhoar após da presença dos Reis Católicos na Galiza.

Galiza perde então a supremacia na luta peninsular que continuara pela sua vez Portugal, e que mesmo na época de D. Manuel I não renunciara a ela por todos os métodos possíveis, mesmo com o casamento de este monarca com uma infanta de Castela, que a posteriori condenara a coroa portuguesa, com o apoio da nobreza fundiária, a entregar-se traz uma guerra desigual, a mãos de Filipe I de Portugal, Felipe II da Espanha.

Em 70 anos os Espanhóis conseguem em Portugal, uma total castelhanização das Instituições e os Altos poderes do reino. Quem não se lhe faria depois ao galego com tantos anos de domínio sobre ele? No entanto o português depois da primeira castelhanização fica livre no 1.640.- após a longa guerra de Independência. Galego-Português e Castelhano vão ser então as novas línguas francas e dominação no novo espaço mundial criado pela navegação.

Nas colisões globais da época, tanto Portugal como Espanha, assim como a Holanda, cedem seu esplendor à nova Europa capitaneada pela Inglaterra. O inglês vai passar então a ser o dominador, ainda que por muito tempo o francês seja a língua chique.

E dizer lutas globais, lutas regionais, encaminhadas a conseguir a supremacia. Para poder aspirar a uma luta global ha que ter bem consolidada a frente regional: um conflito político controlado, sereno, uma economia em processo de expansão, um acordo social táctico de apoio a nova aventura e o desejo de segui-la, expressada num sentimento de poder expandido, tantas vezes induzido pelo controle da comunicação e das mensagens ajeitadas, assim como fortes setores econômicos envolvidos no processo.


dum Artigo Publicado no Portal Galego da Língua de Artur Alonso

quinta-feira, 28 de maio de 2009


Aberto ao meu mundo 04


Se o teu espírito não estiver nublado por cousas
desnecessárias
Será este o melhor período da tua vida
Poetas chineses do Wu- Men.


Lembro que desde muito menino conheci o jardim soalheiro, junto as sombras que ele mesmo desprendia, para com elas perder-me.
E perdi a vida muito cedo, abandonando-me a mim próprio nos falsos sentidos, longe da mãe e de aquilo que significa no coração mais tenro a palavra família.
Lembro, pois uma família falecida em volta dos meus primeiros passos pela relva, descalço com amigos arredor (etéreos) que nos falam sem falar, como o vento quando mexe as folhas do salgueiro, o sabugueiro, os juncos que inventaram o som doçe das flautas.
Lembro uma escola na que era prisioneiro, como a mais crua das sanguinárias fugidas, em um tempo de paz forçado e envilecido; frias eram as guerras.
Lembro ser injustamente repreendido, por tentar em sonhos visitar um local imaginário, só para mim habitável (desde então procuro quem comigo queira compartilhá-lo).
Lembro os inimigos do riso, enfiados em pretas saias, camisas brancas, cavalgar sobre mim como lobos famintos que se emborcavam, sempre acima da presa mais fácil, fraca e minorada nas suas faculdades.
E me lembro cercado, sem outra mobilidade, sem outra possibilidade que agachar-me e agüentar, nas espera de sofrer essa noite, uma agonia interminável.

quarta-feira, 27 de maio de 2009


Condição humana 01

Tremia tanto que o vento a levou,
tremia tanto como não a levaria o vento
lá longe
um mar
lá longe
uma ilha ao sol
e as mãos apertando os remos
morrendo nos momentos que o porto apareceu
e os olhos fechados
em anêmonas do mar

Tremia tanto
procurei-a tanto
na cisterna com os eucaliptos
na primavera e no verão
em todas as nuas florestas
meu deus procurei-a


do Poema: A Folha do Choupo de Yorgos Seferis

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Beleza e Pátria
Se eu pudesse descrever a vida em seu inicio, falaria do nascer no sol, na costa mais remota, na ponta das fisterras. Então, se eu pudesse dar do universo a luz ou em teus olhos refletir a beleza do momento, falaria do clamor luminoso que encontra o seu verdor nas areias paraíso, como marco onde se refugia a iluminação do mundo, depois de tão longo percorrido.
- Daí se namorou: do ser que era, em mim, poeta.
Agora acho todos estes anos foram deitados no lixo ate que ela apareceu. Apareceu quando eu ainda suspirava encontrar uma forma de deitar semente neste berço, apagado pela sombra do poder, que é grande, imenso e astuto, como o lobo que devorou dos montes onde era ceive.
Gostava do local de nascença. Mas isso bem poderia haver sido ontem

-assim chegas-te tu

- fora bom enviar uma mensagem - e ademais tão gostosa...
Alem do extenso mar estão às ilhas da eterna primavera, e aquém, por trás, as montanhas altivas que ergueram os deuses e sonharam heróis indomáveis para imortalizar seus nomes em pedra.
- E é tu pais, um país onde a gente se desconhece. -agora meu país és tu

-sinto que já não possas continuar a luta
A luta tinha um sentido antes de Helena, tinha. Mas eu já assistia canso aos últimos dias com derrotas afligidas.

-Não temos os médios

-Mas vocês têm o coração... Seu coração é forte

-Era mesmo antes de conhecer-te a ti
Iludi as responsabilidades: porque Helena chegou e arrombou toda minha vida. Deu vida a minha saudade, deu aroma a meu prazer. E nunca lhe compensei, também ela nunca quis ser recompensada.

- Quero que ames a tua pátria tanto ou mais do que me amas a mim

-não tenho tempo para fantasias... Agora mesmo só estamos tu e eu: o futuro nosso não tem raça

-mas tem raízes... E se tu delas te perder nunca poderias dar-me o que levas dentro. Vazio ia ficar e sem uma alma vagaria eternamente arredor do meu espírito, como um simples satélite desistindo da gravitação, própria.
Assim que não há solução, seguiremos a lutar por esta terra que nem sequer pode, lhe deixam escutar aos filhos que morrem por ela.

- E a pesar de tudo ela estende seus braços quando vocês falecerem em médio do anônimo sino.

Diz Helena, como quem diz a verdade, falando devagar consigo mesma.

Identidade 02

De acordo com um novo estudo científico, nações celtas como a Escócia ou Irlanda têm mais a ver com os portugueses e galegos (sic) que com os celtas da Europa central
O Doutor Daniel Bradley, professor de genética na Trinity College, comenta como um novo estudo das origens dos celtas revelou essas afinidades com as gentes da Galiza.
Os historiadores deram por crer que os celtas, em origem Indo-Europeus, invadiram as ilhas atlânticas numa migração maciça há 2500 anos. Mas após da análise de mostras de ADN de gentes de outras partes da Europa, os geneticistas desta universidade irlandesa encontraram novas evidências.
O Doutor Bradley comentou que possivelmente houve uma migração do Noroeste da Península Ibérica à Irlanda tão cedo como há 6000 anos, como mínimo há 3000. "Nom acredito na idéia duma migração maciça das Ilhas Britânicas na Idade do Ferro. Um pode considerar o oceano mais como uma rota de comunicação que como uma barreira", diz o Doutor Bradley
Os arqueólogos também levam tempo questionando os vínculos entre os celtas da França oriental, do sul da Alemanha e os das Ilhas Britânicas, e as novas investigações parecem provar as suas teorias. O estudo da universidade dublinense revela que áreas tradicionalmente consideradas célticas, como Irlanda, Gales, Escócia, Bretanha e Cornualhes, apresentavam fortes vínculos de união de uma com a outra, e que tinham ainda mais em comum com as gentes do Noroeste da Península Ibérica.